terça-feira, 19 de maio de 2020

PSICÓLOGO, PSICANALISTA OU PSICOPEDAGOGO???



PSICÓLOGO, PSICANALISTA OU PSICOPEDAGOGO?


DIVERTIDA.......MENTE

Essa é uma pergunta que permeia a mente da grande maioria das pessoas. Porém, nomes tão parecidos tem funções bem distintas. É bem verdade que todos eles tratam de questões emocionais, mas sobre uma ótica diferente e específica a cada área de atuação.
Resultado de imagen para psicologia (con imágenes) | Imagenes de ...A Psicologia, trata de estudar o comportamento humano e seus processos mentais. Melhor dizendo, a Psicologia estuda o que motiva o comportamento humano – o que o sustenta, o que o finaliza e seus processos mentais, que passam pela sensação, emoção, percepção, aprendizagem, inteligência… A história da Psicologia se confunde com a Filosofia e a Fisiologia até meados do século XIX. Sócrates, Platão e Aristóteles deram o pontapé inicial na instigante investigação da alma humana. O fato é que no final do século XIX, os acadêmicos da época resolvem distanciar a Psicologia da Filosofia e da Fisiologia, dando origem ao que se chamou de Psicologia Moderna. Os comportamentos observáveis passam a fazer parte da investigação científica em laboratórios com o objetivo de se controlar o comportamento humano. Nesse sentido, os teóricos objetivam suas ações na tentativa construir um corpo teórico consistente, buscando o reconhecimento, enfim, da Psicologia como ciência.
MT - CURA,CRIAÇÃO E PSICANÁLISE: SOBRE ENCONTRAR AQUELA PALAVRA ...A psicanálise foi desenvolvida por Freud a partir da clínica médica justamente por estar insatisfeito com o que a medicina lhe dizia a respeito do comportamento histérico dos pacientes. Ela então veio tentar dar conta das frustrações e angústias que o homem contemporâneo não consegue lidar. Tentar definir o lugar da psicanálise no mundo de hoje não é de forma alguma uma tarefa fácil, haja vista que lidar com o que o homem traz no seu inconsciente, é lidar com a subjetividade de um indivíduo que a psicanálise aposta irá se tornar um sujeito. 
Neurociências em benefício da Educação!: O mundo secreto do ...Sendo assim, cabe aqui ressaltar que o psicanalista não traz ao analisando, ao paciente que o procura, uma receita de bolo que diga quais os ingredientes ideais para se fazer o bolo da vida perfeito, não, muito pelo contrário. Ela vai na verdade substituir esses ingredientes por outros, vai testar uma nova receita, vai reinventar, recriar, resignificar a partir do paladar desse que é o autor da receita, isto é, o dono de sua própria história, sua própria vida. O psicanalista vai tentar fazer seu paciente entender como ele se sente em frente às questões da própria vida e como ele lida e vai lidar com essas questões. Não é o “certo” nem tampouco o “errado” que conta aqui, mas sim como essa pessoa se sente e se compreende a partir de seus conflitos. E qual é a condição básica para ser um psicanalista? Formação continuada, estar em análise, ser membro de uma sociedade psicanalítica e estar em supervisão de casos clínicos. Freud se opôs veementemente que a psicanálise fosse exclusivamente uma ciência permitida aos médicos, e como referência temos sua própria filha Anna Freud, uma pedagoga que foi uma das precursoras da psicanálise infantil, além de Melanie Klein,  que contribuiu largamente para o avanço da psicanálise com crianças.
ABPP - Associação Brasileira de PsicopedagogiaA psicopedagogia destina-se a compreender as questões de aprendizagem as quais o homem se defronta desde seu nascimento. Ela nasceu a partir da necessidade de se diagnosticar quais as razões que possam comprometer esse processo que é , ou pelo menos deveria ser contínuo e constante, e não apenas isso, a psicopedagogia vai encontrar formas de tornar essa aprendizagem prazerosa,vai tentar despertar nesse paciente o desejo de aprender, pois sem desejo não há aprendizagem. 
Conheça a Especialização em Psicopedagogia Institucional ...Muitas são as razões que possam vir a comprometer esse processo de aprendizagem, tais como condições sociais, conturbações familiares, patologias clínicas, falta de estrutura das instituições, despreparado e/ ou desmotivação dos educadores, e muitos outras causas, que na grande maioria das vezes são ocultas, são veladas. Esse boicote frente à aprendizagem pode ser da ordem do consciente ou inconsciente. A constatação da necessidade de se procurar um profissional da psicopedagogia, a demanda, nos dá pista de um grito de socorro desse que está encontrando dificuldades em aprender; o aluno. Não devemos atribuir “culpas” nem tampouco rotular situações, alunos ou profissionais. O que há de ser feito é realizar uma investigação cuidadosa, e detectadas as questões comprometer todos aqueles que participam do processo (família, instituição, educadores e o aprendente). Nunca se recorreu tanto à psicopedagogia como nos tempos atuais. E quais seriam as razões? Dentre elas um novo modelo familiar que se apresenta, não tão participativo na criação de seus filhos; o excesso de informações que pode vir a dispersar, tirar o foco dos estudos; o “preto e branco” em que as instituições educacionais se encontram frente ao “colorido da vida”, etc. Frente à todas essas questões, a psicopedagogia vem recorrendo à psicanálise para entender melhor a mente humana e suas nuances, para tentar dar conta daquilo que aflige o homem e possa então comprometer sua aprendizagem. Podemos então concluir que mesmo sendo a psicologia, a psicanálise e a psicopedagogia ciências distintas entre si, atuam de forma interdisciplinar por justamente tratarem de algo tão especial e comum à todas que é a mente humana e o comportamento social desse indivíduo.
Escrito por: 
Prof.Andréa Pinheiro Bonfante _Psicanalista e Psicopedagoga. 

O ALCOOLISMO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS E JOVENS








A influência negativa do álcool no processo de aprendizagem de crianças e jovens se dará por duas principais vias; o consumo do álcool propriamente dito e a coodependência alcoólica.
CIA - Publicações: AS CONSEQUÊNCIAS DA NEGLIGÊNCIA FAMILIAR NO ...
Sendo a memória  função fundamental  no processo de aprendizagem, o consumo do álcool irá promover uma  drástica queda no processo de aprendizagem que  irá resultar em repetição escolar, causando desestímulo e consequentemente em evasão. Todo esse processo gera uma baixa autoestima que irá motivar ainda mais um aumento do consumo do álcool gerando um ciclo vicioso que servirá como porta de entrada para outras drogas causando danos ainda maiores.
            Os principais aspectos motivadores são a família, a vida social, normas culturais, religiosas ou políticas públicas e também a ignorância e a curiosidade.
            Por incrível que pareça, a família é o grupo social que provavelmente mais motiva essa criança ou jovem a iniciar o uso do álcool, seja pela falta de vigilância e/ ou até mesmo pelo estímulo de pais e parentes mais próximos, que equivocadamente não apenas permitem, como também o apresentam a eles.
A vida social, amigos, baladas, necessidade de autoafirmação e aceitação do grupo viriam em segundo lugar. Nesse aspecto, os jovens são mais influenciáveis. Estudos comprovam que jovens entre 12 e 17 anos representam 50% da população alcoólica, segundo pesquisas.


Em seguida temos  as normas culturais, religiosas ou políticas públicas tais como a oferta indiscriminada do álcool através da mídia. Inegavelmente o consumo de álcool é muito maior em países onde os comerciais são liberados.
E finalmente muitas de nossas crianças, mas principalmente os jovens, entram nesse caminho que nem sempre há retorno, por conta da curiosidade, tão comum nessa faixa de idade. A ignorância,  a falta de informação e esclarecimento, também deixam nossos jovens à mercê dessa armadilha.
Diante dos fatos, fica a pergunta; o que fazer? Além de conversas francas e esclarecedoras sobre o tema, é também importante que a família coloque regras claras e limites, não em um tom ameaçador, mas de forma a fazê-los entender os prejuízos dessa decisão nada salubre e inteligente.
            Chegamos agora na questão da coo dependência, que como vários testemunhos no livro “Para Além da Codependência”, de Melody Beattie, podemos defini-la como furtiva e enganosa. Dentre vários relatos, esses são alguns dos que mais me chamaram a atenção: “[…]um conjunto de comportamentos compulsivos e inadaptáveis adquiridos por membros de uma família que passa por estresse e grandes dores emocionais como forma de sobrevivência[…]”; “O fogo não termina quando o corpo de bombeiros o apaga e vai embora. Reparar estragos de um incêndio pode envolver um processo de recuperação enorme, e às vezes, frustrante.” 
            Segundo Robert Subby (renomado psicólogo com mais de 20 anos de experiência em saúde mental e vícios, especialista em codependência e recuperação de adultos-crianças), descreve a codependência como “ uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado  da exposição prolongada do indivíduo e da prática de um conjunto de regras opressivas.”
            A interferência negativa no processo de aprendizagem se dá através da vivência dessa criança ou jovem num ambiente familiar comprometido e equivocado, onde lhe é roubada sua subjetividade. Modelos familiares desse gênero podem  fazer com que esse  indivíduo entre de forma consciente ou inconsciente num ciclo vicioso, comprometendo não apenas o tornar-se sujeito em sua própria existência, assim como toda uma geração.
            É importante nos conscientizarmos do quanto somos responsáveis em influenciar tanto positivamente como negativamente nossas crianças e jovens. Por isso, fiquemos atentos aos nossos gestos e atitudes e lembremos que eles estão sempre nos observando, como podemos ver nesse vídeo.



CRIANÇA VÊ, CRIANÇA FAZ!


Andréa Pinheiro- Psicanalista e Psicopedagoga. Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela UVA, Graduada em Letras pela UNIG, Pós-graduada em Psicopedagogia pela Estácio de Sá, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica pela UVA. Diretora e sócia do Espaço Vida Plena -  Valença- RJ, Professora de Psicanálise do Instituto IBRAPCHS-RJ.



A CEGUEIRA VIRTUAL SOB UM OLHAR PSICANALÍTICO




A CEGUEIRA VIRTUAL SOB UM OLHAR PSICANALÍTICO


A parábola dos cegos de pieter bruegel
“Diz-se a um cego, estás livre, abre-se- lhe a porta que o separava do mundo, vai, estás livre, tornamos a dizer-lhe, e ele não vai, ali ficou parado no meio da rua, ele e os outros, estão assustados, não sabem para onde ir, é que não há comparação entre viver num labirinto racional, como é, por definição, um manicômio, e aventurar-se, sem mão de guia nem trela de cão, no labirinto dementado da cidade, onde a memória para nada servirá, pois apenas será capaz de mostrar a imagem dos lugares e não os caminhos para lá chegar.” (José Saramago).·.
Curiosamente, as doenças oculares (estrabismo, catarata, cegueira, dentre outros) tem ocupado lugar de destaque nas artes. Por que será? José Saramago retrata muito bem essa dita cegueira em seu filme “Ensaio sobre a Cegueira” e o pintor Pieter Bruegel conhecido como “O Velho”, é o responsável pela notável “A Parábola dos Cegos”, na qual visualizamos cegos de mãos dadas, numa fila, tateando com bengalas o caminho a percorrer. O quadro que vemos acima faz referência ao Evangelho de Mateus, 15:14, que diz: “Não se preocupem com eles, são guias cegos. E quando um cego guia o outro, os dois acabam caindo no buraco”.
As novas tecnologias da contemporaneidade nos têm colocado frente à aceleração das mudanças, lançando-nos nas incertezas do futuro, e tentamos frustradamente antecipá-lo como se ao usá-las estivéssemos inseridos no contexto futurístico, na necessidade de nos sentirmos parte desse futuro de fato. A civilização então, fascinada por tais tecnologias, decide mergulhar nos cenários virtuais a procura de novas amizades, aceitação social, aprovação de ideias, num apelo constante de criação de laços com pessoas estranhas, onde não há troca de olhares, mas apenas a palavra escrita, alguns vídeos que não expressam de maneira alguma a subjetividade do ser humano, deixando de lado “o falar” de seus problemas, “o refletir”, e “o explorar ideias”. Fala-se sim, bem é verdade, em forma da catarse (desabafo desenfreado), onde o único retorno são lamentações de mesmo cunho, sem conteúdos que venham a dirimir quaisquer dúvidas ou auxiliar esses indivíduos nas suas fracassadas tentativas de terapia coletiva. Faz-se valer a tela acima de Pieter Bruegel e a passagem bíblica de Mateus, 15:14, que diz: …E quando um cego guia o outro, os dois acabam caindo no buraco”.
O homem contemporâneo enveredou-se de tal forma nesse labirinto dito como “racional”, que mal se dá conta de sua cegueira psíquica entrando num frenesi de histeria coletiva onde um fala “mata” e o outro diz “esfola”, o outro diz “coitadinho” e o outro em contra partida concorda sem ao menos conhecer o contexto como um todo e apenas parte dele. Nunca se soube tanto da vida do outro como hoje. Há uma necessidade latente em se comentar da vida alheia, julgar e condenar. O que se come, o que se faz a cada hora do dia; os temas mais complexos (como morte e doenças), aos mais corriqueiros (como o que se comeu hoje), são lançados nas redes sociais tais como números numa lista telefônica.
Não tenho aqui a pretensão de condenar o uso das redes sociais, de forma alguma, mas que a façamos de forma racional e equilibrada e não como cegos numa cegueira coletiva aonde uns conduzem os outros sem nenhum norte. Façamos então bom uso das novas tecnologias, publicando assuntos relevantes e inteligentes. Que possamos sim dar aos nossos amigos notícias importantes como a doença de um ente querido ou até mesmo de um falecimento, pois afinal de contas as redes sociais facilitam a velocidade das informações e para tal propósito ela se faz extremamente válida. Que possamos sim compartilhar com nossos amigos nossas alegrias, mas com nossos amigos e de forma saudável sem expor nossa intimidade em excesso. O que também há de se tomar cuidado são as pessoas adicionadas ou solicitações de amizade a quem não temos sequer uma referência. Tenho visto jovens se expondo com poses sensuais e textos descompromissados sem quaisquer valores morais (e isso não se trata de falso moralismo nem preconceito). Cabe aos responsáveis orientá-los no sentido do perigo que possam estar incorrendo e desnecessariamente. Um apelo exagerado à vulgaridade, a falta de qualidade de assuntos, uma banalidade preocupante, um desapego àquilo que possa vir a somar, um desinteresse à cultura.
Denise Maurano (professora da UFJF, psicanalista, Dra. Em letras e Dra. em Filosofia pela Universidade de Paris XII, na França) autora do livro “Para Que Serve a Psicanálise” sabiamente diz… “Esse apelo a se ligar aos outros participa obviamente da história da humanidade, mas o que chamo atenção aqui é para o fato de, na contemporaneidade, termos inflacionado essa estratégia. Assim, as pessoas recorrem mais facilmente a alguém ao alcance da mão, ou ao alcance da linha telefônica, do que a um templo religioso para se amparar. Da mesma forma, também não crêem mais nos poderes da racionalidade para encontrarem uma fórmula para melhor viver.” (Denise Maurano).
Dessa forma, reiterando a sábia colocação da autora em questão, concluo meus comentários com a proposta de analisarmos essas exposições de ideias, e que a palavra não volte vazia, mas que venha a acrescentar algo na forma como pensamos comunicação e interação social nos tempos atuais.
Andréa Pinheiro- Psicanalista e Psicopedagoga, Mestranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela UVA, Graduada em Letras pela UNIG, Tradudora e Intérprete da língua inglesa, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica pela UVA, Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Estácio de Sá , Professora de Psicanálise do Instituto IBRAPCHS, Diretora e Sócia do Espaço Multidisciplinar Vida Plena. Contatos: (24)99316-8982- Email: andreapinheiroprof@hotmail.com

A SANIDADE DA PSICOSE E A LOUCURA DA NEUROSE




A SANIDADE DA PSICOSE E A LOUCURA DA NEUROSE




Uma recente viagem a 03 renomados museus feita por mim e o Psicólogo Clínico e Psicanalista Charles José, sendo eles o Museu de História Natural da UFRJ localizado na Quinta da Boa Vista, São Cristóvão-RJ; O Museu do Inconsciente no Centro Psiquiátrico Pedro II, hoje Instituto Nise da Silveira em Engenho de Dentro-RJ e o Museu Bispo do Rosário na Colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá-RJ, motivou-me a uma profunda reflexão: Encontrei mais lucidez nos ditos “Lugares de Loucos” do que num “Famoso ponto turístico para pessoas ditas normais”. O que pode parecer a princípio uma insanidade ou argumento inconsistente é fácil de ser explicado. Enquanto em meu primeiro dia de visitação ao Museu de História Natural deparei-me com pessoas apressadas, descuidadas com seus olhares e pouco observadoras a respeito do que foram ali buscar, por outro lado nos museus da dita loucura tive o privilégio de encontrar-me com pessoas apaixonadas pelos seus ideais, além de poder observar belíssimas obras de arte que falam da alma com muita propriedade, sinceridade, riqueza e uma expressividade que só o inconsciente seria capaz de produzir.

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(Imagens do Museu de História Natural da UFRJ- Múmias, animais pré-históricos e a história da humanidade).


Imagens do Museu de História Natural da UFRJ- Múmias, animais pré-históricos e a história da humanidade

Imagens da entrada do Hospital Psiquiátrico Pedro II, que hoje recebe o nome da renomada Psiquiatra Nise da Silveira, que deu novo rumo ao trato psiquiátrico e a forma de perceber seus clientes, como a própria os chamava


(Imagem da entrada do Hospital 
Psiquiátrico Pedro II, que hoje recebe o nome da renomada Psiquiatra Nise da Silveira, que deu novo rumo ao trato psiquiátrico e a forma de perceber seus clientes, como a própria os chamava).




Imagens da entrada do Hospital Psiquiátrico Pedro II, que hoje recebe o nome da renomada Psiquiatra Nise da Silveira, que deu novo rumo ao trato psiquiátrico e a forma de perceber seus clientes, como a própria os chamava











(Imagens da entrada da Colônia Juliano Moreira e do Museu Bispo do Rosário em Jacarepaguá-RJ. Uma homenagem a um dos seus mais ilustres internos, Arthur Bispo do Rosário).
Imagens da entrada da Colônia Juliano Moreira e do Museu Bispo do Rosário em Jacarepaguá-RJ. Uma homenagem a um dos seus mais ilustres internos, Arthur Bispo do Rosário

Frente a todas essas questões reitero minha colocação inicial sobre haver sanidade na Psicose e loucura na Neurose, pois se por um lado valendo-se da metáfora paterna, o neurótico encontra subsídios para dar uma significação fálica ao que demanda do outro, para barrar o desejo de Gozo do Outro sem se perceber invadido; o psicótico na falta desta metáfora é invadido a todo tempo por esse Gozo. O neurótico se vale desse Outro como “uma ajuda alheia” para simbolizar o real, esse Outro é “tesouro de significantes” do neurótico, pois sua linguagem se encontra articulada numa cadeia de significantes, onde um sinal num movimento de deslizamento remete a outro sinal dando sentido, dando significado aos significantes. O psicótico, por sua vez precisa valer-se de uma construção delirante para dar conta desta “intrusão”, desse Outro que Goza, que teima em invadir. Se o psicótico apresenta uma recusa desse Outro, como pode então ter acesso ao tesouro dos significantes ao qual Lacan se refere para simbolizar o seu real? O que se observa em ambas as instituições anteriormente mencionadas para os ditos loucos, é que esse real só pôde ser simbolizado pela via da arte nas obras dos clientes da Dra. Nise da Silveira e de Arthur Bispo do Rosário, motivado pela “missão” de cunho religioso ao qual atribui todos os seus trabalhos, como podemos observar em seguida.


Algumas das telas dos clientes (pacientes) da Dra. Nise da Silveira expostas no Museu do Inconsciente, Antigo Hospital Psiquiátrico Pedro II.Algumas das telas dos clientes (pacientes) da Dra. Nise da Silveira expostas no Museu do Inconsciente, Antigo Hospital Psiquiátrico Pedro II. Muitos desses clientes criaram por volta de 3.000 obras no período em que estiveram internados e foram motivados por Nise. Temos aqui as obras de dois de seus pacientes que mais produziram; Fernando Diniz e Emygdio de Barros.




a_7No Museu Bispo do Rosário é possível deparar-se com as lindas e instigantes obras criadas por Arthur Bispo do Rosário, seu tão renomado manto, estandartes, faixas de Miss, vitrines e trabalhos outros que traduzem sua ligação com a religiosidade e sua criação delirante, criadas durante grande parte de sua permanência do Manicômio Colônia Juliano Moreira.
a_8Durante 14 anos aproximadamente Arthur Bispo do Rosário permaneceu dentro de uma cela, depois de ter cumprido uma pena de 04 meses por mau comportamento. Permanecer enclausurado foi uma decisão tomada pelo próprio interno, para realizar seus trabalhos para a “missão” religiosa a qual foi designado.
a_9Retorno a você leitor, a pergunta que Alfredo Zenon faz em seu livro “Psicanálise e Instituição- A Segunda Clínica de Lacan”- Qual Instituição Para o Sujeito Psicótico?  Um modelo de saúde mental que respeite o direito do homem ocupa a mesma posição de importância para a introdução do lugar do sujeito na clínica psiquiátrica. Sem se fazer valer dessas questões incorremos no risco de um discurso exclusivo, marginalizante, cruel e extremamente abusivo, que desconsidera as questões do sujeito. Entretanto, a instituição precisa se preocupar em não se tornar um lugar de alienação desse sujeito, que queira permanecer nela para simplesmente se proteger do mundo ou que se torne dependente desta instituição pelo medo de se sentir rejeitado ou mal compreendido. O acolhimento institucional é importante, mas ela, a instituição, precisa secretariá-lo na condução de sua vida social, de forma que esse paciente encontre uma forma saudável ou menos traumatizante de elaborar suas questões e se sinta parte de um grupo, respeitado apesar de suas diferenças, e não relegado ou deixado ao abandono.
À esquerda, o que o Bispo do Rosário nomeou “Faixas de Miss”, onde além da riqueza dos detalhes e cores, apresentava vasta informação sobre cada país a qual ele se referia. À direita, uma forma de etiquetar, rotular toda a sua produção nomeando cada um de seus trabalhos.À esquerda, o que o Bispo do Rosário nomeou “Faixas de Miss”, onde além da riqueza dos detalhes e cores, apresentava vasta informação sobre cada país a qual ele se referia. À direita, uma forma de etiquetar, rotular toda a sua produção nomeando cada um de seus trabalhos.
Dar vazão as suas emoções através da arte como puderam experimentar os pacientes da Dra. Nise da Silveira, que tiveram dela todo o apoio e que lutou desesperadamente a favor de uma releitura no trato com pacientes psicóticos, é certamente um viés muito saudável para esse paciente escoar sua energia e poder manter então a tensão do aparelho psíquico num nível mais baixo evitando o desprazer.
Arthur Bispo do Rosário não teve a mesma sorte, se é que podemos assim dizer, de ter ao seu lado uma médica psiquiátrica visionária que pudesse lhe secretariar; mas encontrou nos seus “trabalhos”, como ele mesmo nomeou suas obras de arte, uma forma de simbolizar o real e que o manteve de alguma forma estruturado. É exatamente disso que se trata a construção delirante da psicose, um trabalho constante para tentar dar conta dessa invasão, da intrusão do Gozo do Outro.
Andréa Pinheiro- Psicanalista e Psicopedagoga. Mestre e Doutoranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela UVA, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica pela UVA, Pós-graduada em Psicopedagogia pela Estácio de Sá, Graduada em  Letras pela UNIG, Professora de Psicanálise do Instituto IBRAPCHS, Diretora e sócia do Espaço Vida Plena. Contatos: (24)99316-8982 whatsapp / email:andreapinheiroprof@hotmail.com 

SÍNDROME DO NINHO VAZIO



SÍNDROME DO NINHO VAZIO

Os filhos foram embora? E agora? Mas talvez a pergunta mais pertinente seja entender que vazio é esse que o ninho preencheu. O que tentamos suprir com a criação de nossos filhos? Que furo é esse que tentamos desesperadamente tamponar, nos abandonando como homens e mulheres, deixando de viver nossas vidas em prol desta “maternagem” que pode ser exercida tanto pela figura materna ou paterna?
Na grande maioria dos casos é a mãe que se entrega a esse papel e se desinveste enquanto mulher e profissional, que abre mão de suas amizades e desejos para se dedicar exclusivamente à maternidade. Esse fenômeno também pode acontecer com os homens, apesar de ser bem menos frequente, mas a questão é pensarmos juntos na razão pela qual mulheres e homens se colocam nesse lugar. Importante lembrar que essa é uma questão de escolha. E por qual razão escolhemos nos colocar nessa posição?

Ver os filhos tornarem-se independentes e fazerem suas escolhas, dentre elas seguir suas vidas, pode ser difícil demais para muitos de nós pais e ou familiares que os cuidamos. O que fazer agora com toda dedicação que até então era apenas direcionada a eles? Onde estão nossos projetos de vida que só tinham os deles para se preocupar, e agora diante da “missão cumprida” nos vemos diante de um enorme vazio existencial? 

Esse ninho vazio aos quais nos vemos imersos e circundados, possivelmente ocorra porque só soubemos direcionar toda nossa energia psíquica,  toda a nossa libido ou pulsão de vida à criação dos rebentos, isto é, não conseguimos nos perceber como homens e mulheres com nossas subjetividades e desejos. Nos esquecemos enquanto casal ou sujeitos. Nos mantivemos numa via de mão única onde só valia prover as necessidades dos filhos de toda ordem, fosse ela financeira ou afetiva. Nosso grande objeto de amor era nossa prole, ou seja, usamos o ninho pra preencher nosso vazio.

Muitas das vezes em nome desse suposto “amor”, tentamos mantê-los ao nosso lado, protegendo-os excessivamente, decidindo por eles ou mesmo “inconscientemente” impedindo-os de crescer e de se tornarem independentes e autônomos, temendo o dia da partida, o momento em que seguiriam suas vidas. Essas atitudes são na verdade grandes equívocos, pois geram uma insegurança nos filhos que podem crescer se considerando incapazes e temerosos diante dos desafios aos quais a vida diariamente nos confronta ou até mesmo se sentindo pressionados a fazerem as escolhas não deles próprios mas dos pais.


Deixá-los ir! Ajudá-los nesse processo de separação extremamente saudável a todo ser humano pode ser uma saída para construir essa relação. Se por um lado somos as criaturas mais dependentes de cuidados ao nascer dentre todas as espécies, por outro lado, necessitamos ser livres para nos constituirmos sujeitos, donos de nossas próprias escolhas. 

Quem não tem autonomia, quem não pode ou não consegue decidir sua própria vida, não poderá experimentar a delícia das frustrações, do cair e levantar, do lutar para conquistar. Sim, frustrar-se e aprender a lidar com tudo isso é a melhor forma de se tornar um adulto de bem consigo mesmo. Sofrer, ou “quebrar a cara” como no senso comum costumamos dizer, isso sim faz crescer, e pasmem…sobrevivemos à isso.

A saudade acontece, mas é saudável. Sentir saudades é sentir falta dos bons momentos, daquilo que ficou guardado na alma. Saudade é reviver o que foi bom, é relembrar com alegria a infância e juventude de nossos filhos, e é justamente por ter sido bom e belo que desejamos repetir, ter novamente. Saudade é pulsão de vida. Não confundamos saudade com solidão, mas até mesmo ela é amiga e parafraseando Rubem Alves, as coisas são os nomes que damos a elas.

Aos pais fica a dica de diversificarem sua “bolsa de investimento afetivo”, como uma vez ouvi a fala do colega de profissão Charles José (Psicólogo Clínico e Psicanalista). Sim, diversifiquem suas atividades, seus interesses, façam o que lhes dá prazer, se percebam sujeitos antes de se perceberem pais e mães. Enxerguem prazer fora da maternidade. Se deem prazer, sejam homens e mulheres, exerçam sua sexualidade. Nem sempre é de um ninho vazio que se trata mas de um ninho que preencheu um vazio.

Andréa Pinheiro Bonfante- Psicanalista e Psicopedagoga. Professora de Psicanálise do Instituto IBRAPCHS. Mestre e Doutoranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela Universidade Veiga de Almeida. Graduada em Letras (Port./ Inglês e Literaturas) pela UNIG, Especialista em Tradução da Língua Inglesa; Pós graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UNESA; Pós-graduada em Teoria Psicanalítica pela UVA; Sócia proprietária do Espaço Vida Plena Valença-RJ; Palestrante de temas Psicopedagógicos e Psicanalíticos.
Contatos: andreapinheiroprof@hotmail.com
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