terça-feira, 14 de novembro de 2017

I Simpósio Valenciano sobre Autismo



                          I SIMPÓSIO VALENCIANO SOBRE AUTISMO- UM OLHAR MULTIDISCIPLINAR



O " I Simpósio Valenciano sobre Autismo - Um Olhar Multidisciplinar "que aconteceu no último dia 31/10/2017 na Fundação Lea Pentagna, nasceu da iniciativa da profissional Andréa Pinheiro Bonfante-Psicanalista e Psicopedagoga. Debruçada sobre os estudos do Autismo ao qual é apaixonada e pela experiência clínica com seus pacientes que atende na Clínica Vida Plena, Andréa percebeu que embora pertinente e atual, o tema autismo no viés multidisciplinar e com proposta inclusiva na qual acredita, precisava ser abordado com mais atenção e compartilhado com todos aqueles que de forma direta ou indireta estão ligados ao assunto,
pois como ela sempre diz nos cursos e palestras que apresenta,  "Conhecimento compartilhado é conhecimento multiplicado." A partir da ideia inicial e com a sugestão de seu sócio Charles José- Psicólogo Clínico e Psicanalista, decide então nomear o evento e dar identidade à ele em formato de simpósio, possibilitando convidar outros profissionais de áreas diversas a dividirem esse momento, e por essa razão convida então o cantor e tenor Saulo Laucas, autista e deficiente visual, para fazer a abertura do evento onde foi aplaudido de pé pelos os que lá estavam. Além de sua apresentação onde discursou sobre o tema
"A Psicanálise e a Clínica do Autismo Infantil" mostrando como uma abordagem Psicanalítica pode dar voz à esse sujeito autista desasilando-o do isolamento social promovendo qualidade de vida e abrindo possibilidades de estar no laço social no qual ele precisa estar inserido. Sua convidada Ana Ribeiro- Nutricionista brilhantemente apresentou uma interessante reflexão sobre a qualidade da alimentação de crianças autistas com o tema "Alimentação: Facilitador ou Complicador?" ; Pedro Lemos-Professor de Educação Física propôs também uma bela reflexão sobre a realidade na qual estamos vivendo em tempos contemporâneos : "Inclusão ou Exclusão Assistida?" e fechando o simpósio, a Professora e Pedagoga Joana Darc Batista  levou ao público o relato de suas experiências com crianças autistas com tema "Relato de Vivências" emocionando muitos dos presentes. Por ser um evento totalmente sem fins lucrativos e com um cunho de responsabilidade social, os participantes forma convidados a contribuírem com 1 kg de alimento
não perecível que foi doado ao Lar Meimei Valença. Os participantes acadêmicos e profissionais também puderam contar com um certificado de participação que será entregue na própria instituição onde o evento aconteceu até o final do mês de novembro. Andréa agradece aos responsáveis pela Fundação Lea Pentagna, Dona Dilma Dantas e o Sr. Gilberto Monteiro pela forma como receberam e acolheram seu projeto, depositando total confiança em seu trabalho assim como no da equipe. 

AUTISMO E EDUCAÇÃO FÍSICA


AUTISMO E EDUCAÇÃO FÍSICA




Muito se discute sobre a inclusão do aluno Autista no Sistema de Ensino Regular, entretanto pouco se debate sobre a inclusão nas aulas de Educação Física.
De acordo com Tomé (2007), a implantação da educação física no ensino dos autistas, favorece o desenvolvimento de habilidades sociais e possibilita uma melhora na qualidade de vida desses sujeitos. No entanto, para uma atividade eficaz na aprendizagem do autista é necessário conhecer cada aluno de maneira individual, sabendo dos seus interesses, de suas habilidades motoras e de suas capacidades comunicativas.
A falta de controle pela criança de seus impulsos, limites sociais, percepção de espaço de acordo com o contexto e com as demandas de terceiros, fazem com que as formas de se expressar pelo corpo fiquem muito prejudicadas e desorganizadas. O controle de seus movimentos depende de noção espacial, sensibilidade, interação com o meio e com o outro, sendo exatamente a capacidade de integrar estes elementos que define a eficácia de uma ação organizada e também a expressão de um desejo positivo ou negativo durante a interação com os demais a sua volta. A psicomotricidade permite que a criança com Autismo possa adquirir o que lhe é mais caro e deficitário: apropriar-se de sua imagem e esquema corporal e da consciência de seu corpo dentro de um ambiente ou de um contexto. Para tal objetivo, é importante que se trabalhe com esta criança por meio de estratégias que a faça se auto-perceber e se inter-relacionar com os limites do meio. Atividades como rolar, pular, tocar, mudando de lado ou de posição (frente/atrás) fazem com que ela consiga, aos poucos, perceber os limites entre seu interno e seu externo. Deve-se, a todo momento, manter o contato visual e ajudar a seguir comandos com mudança de tonalidade de voz, a fim de desenvolver a capacidade de agir, com finalidade de iniciar e terminar processos. É comum estes conhecimentos estarem associados aos métodos de integração sensorial, pois existem muitas intersecções e estratagemas em comum entre ambos.

Em relação às evidências científicas, ainda carecem trabalhos que comprovam a eficácia da psicomotricidade, mas clínicos e profissionais experientes vêm ressaltando seu papel na intervenção e remediação de alguns déficits muito comuns no Autismo, especialmente no que tange à coordenação motora e problemas sensoriais.
O envolvimento da família nestas atividades é fundamental e a mesma pode ser orientada a manter tais atividades em ambiente doméstico. Os cuidadores devem ser instruídos e orientados a entender os objetivos das intervenções e estimulados a ampliar a gama de estratégias nos mais diversos contextos. É salutar que o tratamento psicomotor seja conduzido dentro de uma abordagem interdisciplinar e associado a outras formas de intervenção, pois o desenvolvimento da linguagem, o tratamento de comorbidades e o suporte escolar acrescentam e auxiliam muito a generalizar os resultados do tratamento.

Pedro Lemos - Professor de Educação Física - CREF 037864-G/RJ

Referências:






Tomé, Maycon Cleber (2007). A educação física como auxiliar no desenvolvimento cognitivo e corporal dos autistas. Disponível em: https://www.toledo.pr.gov.br/sites/default/files/autista_0.pdf. Acesso em: 24 set. 2015.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

ALIMENTAÇÃO E AUTISMO



ALIMENTAÇÃO E AUTISMO


O autismo apresenta algumas características específicas quanto à alimentação. São elas a seletividade, a possível recusa de alguns ou vários alimentos, a indisciplina comportamental durante as refeições e as desordens gastrointestinais. Todo esse quadro pode ocasionar deficiências nutricionais, desnutrição e a fome oculta (necessidade de nutrientes cuja falta ou deficiência só podemos perceber através de exames bioquímicos).
A partir disso, temos quatro condições básicas impactadas no Autismo. A inflamação intestinal (disbiose), a deficiência de nutrientes, a proliferação de fungos e o estresse oxidativo.
Todo o tempo o foco da nutrição deve ser a recuperação da integridade do intestino, reduzindo ou eliminando a inflamação constante que pode ser causada por toxinas, alergias, sensibilidade alimentar e crescimento desordenado de bactérias e fungos, pois os nutrientes não são adequadamente digeridos e absorvidos tendo consequência uma baixa função cerebral e celular em geral. Esse quadro pode gerar no autista, respostas físicas como dores generalizadas (dores de cabeça, articulações, musculares), azia, refluxo, diarreia, constipação, má digestão e comportamentos estereotipados como autoagressão, beliscões no corpo, arranhões, bater com a cabeça, sacudir os braços, alteração do paladar. Também pode levar ao consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos simples como os preparados com farinha de trigo (massas, bolos, biscoitos, pães e etc) cuja característica gerou a expressão “carboman” (homem do carboidrato) para os autistas, já que suas funções cerebrais estão alteradas. Além disso, a deficiência de nutrientes e o acúmulo de metais pesados no organismo causam percepção alterada do paladar o que pode levar alguns indivíduos a consumirem produtos não alimentícios como shampoos, tinta, cola, sabonete, tijolo, entre outros.

Outro ponto importante a ser observado é o crescimento desordenado de fungos, cujas toxinas produzidas entram na corrente sanguínea e seguem até o cérebro onde podem provocar sintomas como: alienação, falta de clareza mental e comportamento viciado. A proliferação de fungos pode ser causada pelo excessivo uso de antibióticos e o sistema imunológico desequilibrado do indivíduo.
O estresse oxidativo é a resposta do organismo às agressões causadas pela poluição, toxinas, excessivo consumo de alimentos industrializados que contém conservantes como glutamato e metais pesados como alumínio e mercúrio. Ele danifica o sistema nervoso. A alimentação do autista deve ser o mais natural possível.
Para eles é importante melhorar a digestão dos alimentos, disfarçar vegetais e legumes de forma que  aceitem melhor a alimentação, retirando ou diminuindo o consumo de açúcares, amidos e fermentos.
A suplementação através de enzimas e polivitamínicos pode ser necessária e de acordo com cada caso, pois cada pessoa responde de uma forma ao tratamento.
Alimentos que causam alergia ou sensibilidade alimentar devem ser reduzidos ou retirados da dieta do autista, como aqueles que possuem em sua composição glúten (parte proteica do trigo) e caseína (parte proteica do leite).
Alimentos probióticos (que contém bactérias vivas boas para o intestino) como o kefir, o chucrute, leites fermentados e iogurtes, bem como os prebióticos (aqueles provenientes das fibras alimentares e que as bactérias vivas boas utilizam para se alimentar) como as fibras vindas de alguns vegetais (banana, cebola, alho, chicória, maçã e linhaça) devem ser adicionados à alimentação.
Alimentos ricos em ômega 3 como as castanhas, sardinha, atum, salmão, sementes ou farinhas de chia, linhaça, amaranto, o azeite extra virgem devem ser priorizados de forma a minimizar a inflamação do intestino.
Priorizar orgânicos, inserir verduras, legumes e frutas, diminuir ou eliminar corantes, conservantes e o excesso de químicos e industrializados é fundamental e urgente no tratamento nutricional do autismo, visto que ele pode melhorar consideravelmente a qualidade de vida do indivíduo.

Nutricionista Ana Lúcia Ribeiro de Vasconcellos
CRN4 11100846


REFERÊNCIAS:

LIVRO: AUTISMO, ESPERANÇA PELA NUTRIÇÃO – Claudia Marcelino


Dieta sem glúten sem caseína. Disponível em: http://www.estouautista.com.br/index.php/dieta-sgsc/

Autismo, a relação com certos alimentos. Disponível em: https://gluteneobesidade.wordpress.com/209-2/

Nutrição e Autismo: considerações sobre a alimentação do autista. Disponível em: http://www.itpac.br/arquivos/Revista/51/1.pdf

ABRA – Associação Brasileira do Autismo - http://www.autismo.org.br/

Guia Prático de Intervenção Nutricional no Autismo – disponível em: http://www.estouautista.com.br/index.php/dieta-sgsc/



sábado, 4 de novembro de 2017

Um Olhar Multidisciplinar sobre o Autismo



Um Olhar Multidisciplinar sobre o Autismo

 

Um sujeito não cessa de ser um sujeito, mesmo que seu corpo seja “deficiente”. O fato de haver algo de biológico em jogo não exclui sua particularidade como um ser imerso na linguagem. (Laurent)
 
No início do século passado, por volta de 1911, um psiquiatra suíço chamado Eugene Bleuler pela 1ª vez se utiliza da palavra “autismo” que tem a sua origem no alemão “AUTISMUS” afim de descrever um paciente esquizofrênico, que por sua vez se retirasse em seu próprio mundo, definindo-a como um conjunto de operações psíquicas que afetam a percepção da realidade acarretando uma impossibilidade ou grande dificuldade para se comunicar.
Na sequência, Leo Kanner, um psiquiatra austríaco erradicado nos Estados Unidos, por volta de 1943 inicia suas pesquisas na Universidade de John Hopkins baseada na observação de 11 crianças e relato dos pais, onde se observava uma inaptidão e dificuldade nas interações sociais.
Mas foi apenas no final da década de 70, início dos anos 80 ,(1978 /1980) que pela primeira vez o termo esquizofrenia e autismo foram compreendidos como distintos, pois enquanto na esquizofrenia há uma ruptura causada por algo traumático em algum momento da vida, o autismo é desde sempre, isto é, não houve uma relação inicial.
O TEA- Transtorno de Espectro Autista é um transtorno de desenvolvimento, neurobiológico, uma alteração no desenvolvimento mental que faz com que ele tenha dificuldades de se relacionar com as pessoas, e por isso precisa muito de ajuda, sendo a família parte fundamental na condução de seu tratamento. Ainda não há cura para o autismo, portanto, o que mais nos importa é promover qualidade de vida para esse sujeito, que é possível conquistar através de um trabalho multidisciplinar.
E para saber se alguma criança tem autismo, é importante observar alguns sinais:

-A criança evita contato visual? ; -Não responde quando é chamado? ; -Costuma mexer com os dedos e as mãos de forma peculiar? ; -Fica fazendo movimentos repetitivos sem motivo aparente? ; -O desenvolvimento da linguagem parece diferente? ; -Costuma emitir sons e palavras repetidas fora do contexto? ; -Brinca com os objetos e brinquedos de forma bastante particular? ; -Confunde-se com frases de sentido figurado e costuma ser literal? ; -Parece ter reduzida sua capacidade imaginativa? ; -Apresenta interesse exagerado em assuntos muito específicos? ; -Tem pouca noção de situação de perigo? ; -Comunica-se melhor falando de temas de seu interesse? ;-Isola-se dos colegas sem motivo aparente?

Se essa criança apresenta alguns desses comportamentos em ambientes diferentes e se você percebe que isso vem se repetindo, é relevante procurar um profissional (neurologista, psiquiatra, psicólogo, psicanalista, fonoaudiólogo) que possa te orientar de forma adequada. Converse com ele, tire suas dúvidas, conte a história dessa criança. Quanto antes ela for diagnosticada e mais rápido iniciar um acompanhamento multidisciplinar, mais qualidade de vida ela poderá ter. A família é parte fundamental nesse processo.
De que forma a Psicanálise pode contribuir?
Por ser uma prática voltada a partir do sujeito e para o sujeito respeita sua subjetividade e tem por finalidade justamente fazer que esse sujeito possa emergir.
As criança com autismo, mesmo que não pronunciem, que não oralizem sequer uma palavra, as chamadas não verbais, podem se comunicar de várias formas, através de gestos, olhares, sons e até mesmo dos movimentos estereotipados, que nada mais são do que uma tentativa de se organizarem, de darem conta das inúmeras sensações que os invadem.
A psicanálise foi o primeiro movimento que deu voz à esses sujeitos, que os “desasilou”, que pôde entender que por detrás de um rótulo, condição ou precariedade, existe uma pessoa que é única e plural. Que mesmo não havendo cura para o autismo, entende que é possível promover qualidade de vida através da multidisciplinalidade.
A prática psicanalítica nos convida a pensar em algo que justamente é extremamente contraditório mas contemporâneo, que é a aceitação do que não é pior, nem tampouco menor, mas diferente. E justamente por isso, promover um olhar multidisciplinar pode propiciar mais abertura e possibilidades para algo tão complexo e plural como o autismo.
Ela pode ajudar esse sujeito a se apropriar de sua própria imagem, que se reconheça, que tenha ao menos um pouco da noção da dimensão desse corpo, corpo esse que é linguagem, que ele possa aprender a se manifestar e que consiga lidar de forma menos intrusiva com tudo aquilo que vêm do mundo externo e que o invade de sensações com as quais ele tem precariedade em lidar. A Psicanálise OUVE esse sujeito, DÁ VOZ à ele para que se propicie emergir um sujeito desejante, autônomo e que junto de sua família seja capaz de construir sua própria história.

“O que temos de mais humano é a necessidade de fazer a vida excessiva que trazemos sempre conosco, muita das vezes perigosa, conviver e funcionar com a necessária regulação social dos desejos e dos gozos. Para cada um, esse cruzamento é único e distinto e mantém-se às custas de um trabalho contínuo. O autista entretanto, realiza esse trabalho com pedra lascada e barro fofo.” (Éric Laurent)


Por Andréa Pinheiro Bonfante
*Psicanalista / Psicopedagoga- ABPp:1271-RJ
*Mestranda em Psicanálise Saúde e Sociedade
*Diretora de Mobilização Distrital do Sindicato
dos Psicopedagogos do Brasil- CRPp:816


Espaço Multidisciplinar Vida Plenal – Rua André Rugeri, 115- Bairro de Fátima- Valença- RJ
(24)99316-8982 whatsapp / (24)2452-4478 Clínica -  e-mail:andreapinheiroprof@hotmail.com


BIBLIOGRAFIA:

*LAURENTE, Éric - A batalha do autismo: da clínica à política/ Éric Laurent; tradução Claudia Berliner. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2014
*RIBEIRO, Jeanne Marie de Leers Costa – A criança autista em trabalho