O NOME DO PAI
“Novos tempos, novas configurações” (Andréa
Pinheiro)
Dou início a esse texto
trazendo uma frase que considero bem atual, e que costumo usar muito nas
palestras, nas salas de aula e nos debates aos quais tenho participado. E a
quais configurações me refiro? Às configurações familiares, principalmente
quando o assunto em questão é a ausência do pai, algo que se inscreve
recorrentemente nessa nova cartografia contemporânea. Lares sem pais, mães em
cena.
Temos falado muito sobre
as dificuldades dessa nova geração de crianças e adolescentes, em lidar com os limites,
com as regras, enfim, com a lei. E quando é que essa lei chega na vida de uma
pessoa? Apenas quando ela se torna adulta? Não. É desde sempre, já nos
primeiros momentos de vida desse bebê que chega ao mundo e que é mergulhado num
banho de linguagem. Vale dizer, que de uma forma ou de outra não conseguiríamos
pular fora desse barco, porque justamente a lei se inscreve em nossa vida do
início ao fim, desde o nascimento até a morte.
A figura do pai, na
psicanálise, é nomeada não como algo meramente biológico, mas como função
paterna, e o psicanalista francês Jacques Lacan deixa claro que a função do pai
no complexo de Édipo, está muito além de sua conduta ou do papel que ele
desempenha em sua família, se ausentando com frequência ou ficando em casa
enquanto a mãe sai para trabalhar, o essencial é que o sujeito entenda a dimensão
do Nome-do-Pai, que é um termo bíblico que Lacan se utiliza para falar de duas
funções importantes na constituição do sujeito: dar ao filho seu Nome, dando a
ele um lugar, e ao mesmo tempo dizer um Não ao desejo da mãe pela criança e da
criança pela mãe, o que provavelmente o salvará da alienação , circunscrita
pelo gozo da mãe em ser toda e de ter o filho todo para ela. Dessa forma,
entendemos que o pai é aquele que porta a lei e não um mero educador que
encarna a lei, mas aquele que se identifica com ela, tornando-se arbitrário,
introduzindo para a criança a norma fálica.
Então, se nas novas
configurações familiares, o pai quase sempre não está presente e tampouco faz
função, como "desalienar" essa criança do gozo da mãe, que não consegue ao mesmo
tempo "maternar" e castrar? Como se dariam
esses novos arranjos familiares? Quem circunscreve a lei, o não, o
interdito? A estrutura familiar de que
fala a psicanálise é a estrutura da mítica edípica, aquela que organiza a
relação entre a mãe, a criança e a função paterna.
Trago a vocês para
contextualizar nossa proposta ,a emblemática e tão popular música dos finais
dos anos 70 do cantor Fábio Júnior, “Pai”, que continua sendo poesia cantada
para muitos que veem nela, essa relação paradoxal e controversa do pai herói e
bandido, do pai que ao mesmo tempo é lei, mas que também é arbitrário, o pai
que “ensina o jogo da vida”, mas que muitas das vezes está com a sua voz presa
pra falar de amor com seu filho, um filho que cresceu e que se lembra de estar
morrendo de medo nos braços desse pai que um dia fez segredo, mas que fez parte
do caminho do filho, a seu modo, mas que entretanto o filho acredita que ainda possam
ser mais do que dois grandes amigos.
Prof. Mestre Andréa
Pinheiro Bonfante- Mestre e Doutoranda em Psicanálise.
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