Um Olhar
Multidisciplinar sobre o Autismo
Um sujeito não cessa de ser um sujeito,
mesmo que seu corpo seja “deficiente”. O fato de haver algo de biológico em
jogo não exclui sua particularidade como um ser imerso na linguagem. (Laurent)
No início do século passado, por volta de 1911, um psiquiatra suíço
chamado Eugene Bleuler pela 1ª vez se utiliza da palavra “autismo” que
tem a sua origem no alemão “AUTISMUS” afim de descrever um paciente esquizofrênico, que por sua vez
se retirasse em seu próprio mundo, definindo-a
como um conjunto de operações psíquicas que afetam a percepção da realidade
acarretando uma impossibilidade ou grande dificuldade para se comunicar.
Na sequência, Leo Kanner, um psiquiatra austríaco erradicado nos Estados
Unidos, por volta de 1943 inicia suas pesquisas na Universidade de John Hopkins
baseada na observação de 11 crianças e relato dos pais, onde se observava uma
inaptidão e dificuldade nas interações sociais.
Mas foi apenas no final da década de 70, início dos anos 80 ,(1978
/1980) que pela primeira vez o termo esquizofrenia e autismo foram
compreendidos como distintos, pois enquanto na esquizofrenia há uma ruptura
causada por algo traumático em algum momento da vida, o autismo é desde sempre,
isto é, não houve uma relação inicial.
O TEA- Transtorno de Espectro Autista é um transtorno de
desenvolvimento, neurobiológico, uma alteração no desenvolvimento mental que
faz com que ele tenha dificuldades de se relacionar com as pessoas, e por isso
precisa muito de ajuda, sendo a família parte fundamental na condução de seu
tratamento. Ainda não há cura para o autismo, portanto, o que mais nos importa
é promover qualidade de vida para esse sujeito, que é possível conquistar
através de um trabalho multidisciplinar.
E para saber se alguma criança tem autismo, é importante observar alguns
sinais:
-A criança evita contato visual? ; -Não responde quando é chamado? ; -Costuma
mexer com os dedos e as mãos de forma peculiar? ; -Fica fazendo movimentos repetitivos
sem motivo aparente? ; -O desenvolvimento da linguagem parece diferente? ; -Costuma
emitir sons e palavras repetidas fora do contexto? ; -Brinca com os objetos e
brinquedos de forma bastante particular? ; -Confunde-se com frases de sentido
figurado e costuma ser literal? ; -Parece ter reduzida sua capacidade
imaginativa? ; -Apresenta interesse exagerado em assuntos muito específicos? ; -Tem
pouca noção de situação de perigo? ; -Comunica-se melhor falando de temas de
seu interesse? ;-Isola-se dos colegas sem motivo aparente?
Se essa criança apresenta alguns desses comportamentos em ambientes
diferentes e se você percebe que isso vem se repetindo, é relevante procurar um
profissional (neurologista, psiquiatra, psicólogo, psicanalista, fonoaudiólogo)
que possa te orientar de forma adequada. Converse com ele, tire suas dúvidas,
conte a história dessa criança. Quanto antes ela for diagnosticada e mais
rápido iniciar um acompanhamento multidisciplinar, mais qualidade de vida ela
poderá ter. A família é parte fundamental nesse processo.
De que forma a Psicanálise pode contribuir?
Por ser uma prática voltada a partir do sujeito e para o sujeito
respeita sua subjetividade e tem por finalidade justamente fazer que esse
sujeito possa emergir.
As criança com autismo, mesmo que não
pronunciem, que não oralizem sequer uma palavra, as chamadas não verbais, podem
se comunicar de várias formas, através de gestos, olhares, sons e até mesmo dos
movimentos estereotipados, que nada mais são do que uma
tentativa de se organizarem, de darem conta das inúmeras sensações que os
invadem.
A psicanálise foi o primeiro movimento que deu
voz à esses sujeitos, que os “desasilou”, que pôde entender que por detrás de
um rótulo, condição ou precariedade, existe uma pessoa que é única e plural. Que
mesmo não havendo cura para o autismo, entende que é possível promover
qualidade de vida através da multidisciplinalidade.
A prática psicanalítica nos convida a pensar
em algo que justamente é extremamente contraditório mas contemporâneo, que é a
aceitação do que não é pior, nem tampouco menor, mas diferente. E justamente
por isso, promover um olhar multidisciplinar pode propiciar mais abertura e
possibilidades para algo tão complexo e plural como o autismo.
Ela pode ajudar esse sujeito a se apropriar de
sua própria imagem, que se reconheça, que tenha ao menos um pouco da noção da
dimensão desse corpo, corpo esse que é linguagem, que ele possa aprender a se
manifestar e que consiga lidar de forma menos intrusiva com tudo aquilo que vêm
do mundo externo e que o invade de sensações com as quais ele tem precariedade
em lidar. A Psicanálise OUVE esse sujeito, DÁ VOZ à ele para que se propicie
emergir um sujeito desejante, autônomo e que junto de sua família seja capaz de
construir sua própria história.
“O que temos de mais humano é a necessidade
de fazer a vida excessiva que trazemos sempre conosco, muita das vezes
perigosa, conviver e funcionar com a necessária regulação social dos desejos e
dos gozos. Para cada um, esse cruzamento é único e distinto e mantém-se às
custas de um trabalho contínuo. O autista entretanto, realiza esse trabalho com
pedra lascada e barro fofo.” (Éric Laurent)
Por Andréa Pinheiro
Bonfante
*Psicanalista
/ Psicopedagoga- ABPp:1271-RJ
*Mestranda
em Psicanálise Saúde e Sociedade
*Diretora
de Mobilização Distrital do Sindicato
dos
Psicopedagogos do Brasil- CRPp:816
Espaço Multidisciplinar Vida Plenal
– Rua André Rugeri, 115- Bairro de Fátima- Valença- RJ
(24)99316-8982 whatsapp / (24)2452-4478
Clínica - e-mail:andreapinheiroprof@hotmail.com
BIBLIOGRAFIA:
*LAURENTE, Éric - A batalha do autismo: da clínica à política/ Éric
Laurent; tradução Claudia Berliner. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2014
*RIBEIRO, Jeanne Marie de Leers Costa – A criança autista em trabalho
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