Psicanalista Mestre e Doutoranda em Psicanálise

sexta-feira, 5 de junho de 2020

O SUICÍDIO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA.



O SUICÍDIO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA.





Há algum tempo essa imagem começou a ser veiculada nas redes sociais nos alertando para a catastrófica pesquisa que sinaliza o aumento absurdo de suicídios na infância e na adolescência.  Um par de sapatos para cada criança que se suicidou em 2017. Duzentos e vinte e seis (226) pares de sapatos, duzentas e vinte e seis (226) vidas precocemente interrompidas. O suicídio é hoje a terceira causa de morte na adolescência. Dados os quais preferiríamos não ter notícias certamente, entretanto a advertência é preciosa e precisa ser observada com extrema atenção, olhos voltados para esse público tão jovem que pede socorro, que através desse ato chamam pra si a atenção de algo que a sociedade insiste em continuar não discutindo, “tapando o sol com a peneira”.

As pessoas alarmadas se perguntam “Ué! E criança lá tem razão para se suicidar?”. A resposta é SIM. Crianças e jovens se suicidam todos os dias, com os supostos “acidentes” domésticos, muitas vezes omitido pela família, que apresenta dificuldade e preconceito para lidar com esta difícil questão. E a incidência ainda não é maior entre as crianças devido a maior dificuldade de acesso a métodos letais e imaturidade cognitiva. A criança não dá conta de traduzir em palavras muito do que lhe possa afligir, então ela passa ao ato, morde, bate, grita, chora, chuta, faz pirraça, malcriação, apresenta dificuldades na escola… e se suicida. Verbo fatal. Contra esse último não há o que se fazer, então que prestemos mais atenção quando as crianças ainda estiverem nos “dando trabalho”, porque quanto à isso ainda há algumas tantas e boas saídas, como por exemplo o amor.

Mas o que está acontecendo com nossas crianças e jovens? As razões são diversas, mas entre elas podemos destacar algumas importantes. Mais de 70% das crianças e adolescentes com transtornos de humor grave não apresentam sequer diagnóstico que dirá tratamento adequado. O abandono afetivo e a terceirização da criação dos filhos também aparecem como causa crucial nesse aspecto. Os novos arranjos familiares estão perdidos na criação de suas crianças. O modelo contemporâneo de sociedade imerso no excesso de informações do mundo digital não tem conseguido administrar qualidade x quantidade de tempo com seus rebentos, e o resultado disso não tem sido muito positivo. Perde-se tempo considerável com o supérfluo, deixando de lado o essencial, ou seja, o corpo a corpo tão necessário no acompanhamento do crescimento de nossos pequenos.

Nos consultórios crianças não param de chegar com problemas emocionais, que afetam suas relações e também sua aprendizagem. Sempre digo que precisamos deixar de falar sobre nossas crianças mas conversar com nossas crianças, olho no olho, dando à elas uma escuta pra que essa cena dos sapatos acima não seja mais parte de uma estatística dolorosa, mas apenas um possível catálogo de compras, onde a família possa escolher lindos pares de sapatos pra seus filhos vivos.

Autora: Andréa Pinheiro Bonfante – Psicanalista, Psicopedagoga, Escritora, Pesquisadora, Mestre e Doutoranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade.

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