sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

ENTENDENDO O QUE É INCLUSÃO: UMA QUESTÃO NECESSÁRIA À COMPREENSÃO DO TEMA




I SIMPÓSIO VALENCIANO SOBRE AUTISMO: 
“UM OLHAR MULTIDISCIPLINAR SOBRE O AUTISMO”  




  
PROFESSORA /  PEDAGOGA  JOANA DARC B. DA SILVA 

ENTENDENDO O QUE É INCLUSÃO: UMA QUESTÃO NECESSÁRIA À COMPREENSÃO DO TEMA 

Para investigar como incluir alunos autistas em classes regulares a partir da perspectiva inclusiva, primeiramente é necessário que se entenda o que é inclusão escolar. Assim, entendemos que ela não se caracteriza pela ação de depositar todos os alunos com necessidades educacionais na classe de ensino regular, que de acordo com Suplino:   
A palavra incluir significa inserir. Estar incluído é “fazer parte de”. Se o aluno não está incluído, “não faz parte de” um determinado grupo. “Tal situação se estabelece a partir de critérios que determinam as características de quem estará apto a fazer parte do grupo seleto”. (2006, p.1). Há muito vem se discutindo, no campo da educação, a inclusão e suas faces e qual a melhor maneira de atingi-la.  Leis e documentos internacionais colocadas em vigor asseguram os direitos das pessoas com deficiência: 
Em 1988, com a Constituição da República , prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos sem preconceito.  
1994, a Declaração de Salamanca, que é um documento sem valor legal, porém importante, passa a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva.   
1996, a Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (LDB), assegura no art. 59 que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específica para atender as necessidades dos alunos.  
  

Apesar dos avanços dos últimos anos, ainda há muito por se fazer e a modificação da sociedade é fator primordial para as pessoas com necessidades especiais buscarem seu desenvolvimento e exercer sua cidadania. Para que a inclusão realmente aconteça, é preciso olhar a educação de outro modo, com reflexões na mentalidade e no modo de vida.  Ter um ambiente favorável à educação inclusiva significa ter uma revolução de ideias e ações que nortearão como a inclusão se dará de modo efetivo. Assim a inclusão trata de abordar dois conceitos: inclusão e integração sendo conceitos que estão interligados, por estarem direcionados a um mesmo objetivo, mas que estão ao mesmo tempo distintos por exigirem práticas específicasSassaki (1997).  De acordo com Pereira (1980), há três formas principais de integração: a integração temporal, quando há uma convivência por mais tempo de forma gradativa do deficiente com seus companheiros ditos ‘‘normais’’. A integração instrucional relaciona-se as condições favoráveis de estímulos e a oportunidades no ambiente de classe regular. A integração social se refere a convivências dos alunos deficientes com seus companheiros sem deficiências dentro do grupo podendo ser analisada em termos de interação, aceitação, proximidades físicas, sendo valores de atitudes e condutas. A partir destas reflexões podemos dizer que enquanto a integração significa a inserção da pessoa deficiente preparada para viver na sociedade, inclusão significa a modificação da sociedade como prática essencial para a pessoa com necessidade especial buscar seu desenvolvimento, exercer sua cidadania, levando cada aluno a desenvolver suas potencialidades; e ainda a prática da inclusão social baseia se em princípios diferentes do convencional: aceitação as diferenças individuais, valorização de cada pessoa, convivências dentro da diversidade humana, sendo aprendizagem por meio da cooperação e interação.  


COMO INCLUIR ALUNOS COM AUTISMO NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO? 

Assumir um caráter inclusivo para escola é assumir-se excludente e que muitas das vezes peca na fragilidade, na aceitação do diferente como diferente, na formação profissional, no respeito à diversidade. Se agora há crianças e adolescentes nas escolas as preocupações se voltam em como mantê-las na escola.  
 Cunha (2012), afirma que para incluir um autista no ensino regular  “ o grande foco na educação escolar deve estar no processo de aprendizagem e não nos resultados, porque, nem sempre, eles virão de maneira rápida e como queremos. É preciso atentar a carga efetiva do aprendente, observando aquilo que possui funcionalidade para ele”. Assim, compreende-se que para o aluno autista os recursos didáticos tradicionais utilizados em sala de aula, podem não fazer nenhum sentido tornando desestimulantes ou até deixando-os agressivos. Neste sentido, as adaptações curriculares e na própria sala de aula como flexibilidade, formação e capacitação do professor, são considerados recursos indispensáveis para que a estada deste aluno no ensino regular assuma um caráter de inclusão e não de exclusão do mesmo..  
Diante de tais colocações, considero que para receber um aluno autista em uma sala de ensino regular o professor precisará como nos remete os autores citados, conhecer as especificidades e o grau de comprometimento deste aluno. Considera-se também que ele deva estar em parceria com a família para que haja cumplicidade e assim o professor possa fazer parte do mundo de seu aluno, conhecer suas predileções, seu tempo e suas limitações. É importante ainda que o professor e sua equipe conheçam os trâmites legais que permeiam o âmbito da educação especial, principalmente no que diz respeito à inclusão do aluno autista. Para que, desse modo, ele tenha segurança em fazer as adaptações necessárias e tornar o aprendizado deste aluno significativo e prazeroso. Ter um aluno autista em sala de aula não é como ter um deficiente físico, com TDH, deficiente intelectual ou com Síndrome de Down. As adaptações precisam ser feitas em todos os casos, porém o autista tem sua peculiaridade. Nesse processo é preciso que haja a aceitação do profissional que vai trabalhar com esse aluno autista. Esse profissional precisa entender que há a necessidade de rotina e muitas vezes há uma resistência a mudanças, tornando o acesso ao aluno muito restrito.  Uma escola que atenda este aluno precisa estar preparada para flexibilidade tanto do currículo, quanto a do profissional que atenda o aluno.  
Assim, para se trabalhar com um aluno autista no ensino regular, é preciso comprometimento, tolerância e estar apto a mudanças. É preciso conhecer as peculiaridades de cada autista para que as estratégias tenham funcionalidade.  Mais necessário ainda é tornar a sala de aula e a escola um ambiente diferente do tradicional. 
 “ Se uma criança não pode aprender da maneira que é ensinada , é melhor ensiná-la da maneira que ela pode aprender”. Marion Welchmann 


Referencias : 
CUNHA, Eugênio.Práticas pedagógicas para inclusão e diversidade. 2 ed. Rio de Janeiro: Wak Editora,2012. 
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília : Corde, 1994. 
SUPLINO, MaryseINCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM AUTISMO. 2006. 8 f. Tese (Doutorado) - Curso de Dotorado, Centro Ann Sullivan do Brasil, Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http;//files.inclusãoescolar.webnode.com.br/200000010-8d32a8e2d2/inclusão-de-alunos-com-autismo.pdf>.  
https://www.google.com.br/search?q=autismo+inclusão&source 




terça-feira, 14 de novembro de 2017

I Simpósio Valenciano sobre Autismo



                          I SIMPÓSIO VALENCIANO SOBRE AUTISMO- UM OLHAR MULTIDISCIPLINAR



O " I Simpósio Valenciano sobre Autismo - Um Olhar Multidisciplinar "que aconteceu no último dia 31/10/2017 na Fundação Lea Pentagna, nasceu da iniciativa da profissional Andréa Pinheiro Bonfante-Psicanalista e Psicopedagoga. Debruçada sobre os estudos do Autismo ao qual é apaixonada e pela experiência clínica com seus pacientes que atende na Clínica Vida Plena, Andréa percebeu que embora pertinente e atual, o tema autismo no viés multidisciplinar e com proposta inclusiva na qual acredita, precisava ser abordado com mais atenção e compartilhado com todos aqueles que de forma direta ou indireta estão ligados ao assunto,
pois como ela sempre diz nos cursos e palestras que apresenta,  "Conhecimento compartilhado é conhecimento multiplicado." A partir da ideia inicial e com a sugestão de seu sócio Charles José- Psicólogo Clínico e Psicanalista, decide então nomear o evento e dar identidade à ele em formato de simpósio, possibilitando convidar outros profissionais de áreas diversas a dividirem esse momento, e por essa razão convida então o cantor e tenor Saulo Laucas, autista e deficiente visual, para fazer a abertura do evento onde foi aplaudido de pé pelos os que lá estavam. Além de sua apresentação onde discursou sobre o tema
"A Psicanálise e a Clínica do Autismo Infantil" mostrando como uma abordagem Psicanalítica pode dar voz à esse sujeito autista desasilando-o do isolamento social promovendo qualidade de vida e abrindo possibilidades de estar no laço social no qual ele precisa estar inserido. Sua convidada Ana Ribeiro- Nutricionista brilhantemente apresentou uma interessante reflexão sobre a qualidade da alimentação de crianças autistas com o tema "Alimentação: Facilitador ou Complicador?" ; Pedro Lemos-Professor de Educação Física propôs também uma bela reflexão sobre a realidade na qual estamos vivendo em tempos contemporâneos : "Inclusão ou Exclusão Assistida?" e fechando o simpósio, a Professora e Pedagoga Joana Darc Batista  levou ao público o relato de suas experiências com crianças autistas com tema "Relato de Vivências" emocionando muitos dos presentes. Por ser um evento totalmente sem fins lucrativos e com um cunho de responsabilidade social, os participantes forma convidados a contribuírem com 1 kg de alimento
não perecível que foi doado ao Lar Meimei Valença. Os participantes acadêmicos e profissionais também puderam contar com um certificado de participação que será entregue na própria instituição onde o evento aconteceu até o final do mês de novembro. Andréa agradece aos responsáveis pela Fundação Lea Pentagna, Dona Dilma Dantas e o Sr. Gilberto Monteiro pela forma como receberam e acolheram seu projeto, depositando total confiança em seu trabalho assim como no da equipe. 

AUTISMO E EDUCAÇÃO FÍSICA


AUTISMO E EDUCAÇÃO FÍSICA




Muito se discute sobre a inclusão do aluno Autista no Sistema de Ensino Regular, entretanto pouco se debate sobre a inclusão nas aulas de Educação Física.
De acordo com Tomé (2007), a implantação da educação física no ensino dos autistas, favorece o desenvolvimento de habilidades sociais e possibilita uma melhora na qualidade de vida desses sujeitos. No entanto, para uma atividade eficaz na aprendizagem do autista é necessário conhecer cada aluno de maneira individual, sabendo dos seus interesses, de suas habilidades motoras e de suas capacidades comunicativas.
A falta de controle pela criança de seus impulsos, limites sociais, percepção de espaço de acordo com o contexto e com as demandas de terceiros, fazem com que as formas de se expressar pelo corpo fiquem muito prejudicadas e desorganizadas. O controle de seus movimentos depende de noção espacial, sensibilidade, interação com o meio e com o outro, sendo exatamente a capacidade de integrar estes elementos que define a eficácia de uma ação organizada e também a expressão de um desejo positivo ou negativo durante a interação com os demais a sua volta. A psicomotricidade permite que a criança com Autismo possa adquirir o que lhe é mais caro e deficitário: apropriar-se de sua imagem e esquema corporal e da consciência de seu corpo dentro de um ambiente ou de um contexto. Para tal objetivo, é importante que se trabalhe com esta criança por meio de estratégias que a faça se auto-perceber e se inter-relacionar com os limites do meio. Atividades como rolar, pular, tocar, mudando de lado ou de posição (frente/atrás) fazem com que ela consiga, aos poucos, perceber os limites entre seu interno e seu externo. Deve-se, a todo momento, manter o contato visual e ajudar a seguir comandos com mudança de tonalidade de voz, a fim de desenvolver a capacidade de agir, com finalidade de iniciar e terminar processos. É comum estes conhecimentos estarem associados aos métodos de integração sensorial, pois existem muitas intersecções e estratagemas em comum entre ambos.

Em relação às evidências científicas, ainda carecem trabalhos que comprovam a eficácia da psicomotricidade, mas clínicos e profissionais experientes vêm ressaltando seu papel na intervenção e remediação de alguns déficits muito comuns no Autismo, especialmente no que tange à coordenação motora e problemas sensoriais.
O envolvimento da família nestas atividades é fundamental e a mesma pode ser orientada a manter tais atividades em ambiente doméstico. Os cuidadores devem ser instruídos e orientados a entender os objetivos das intervenções e estimulados a ampliar a gama de estratégias nos mais diversos contextos. É salutar que o tratamento psicomotor seja conduzido dentro de uma abordagem interdisciplinar e associado a outras formas de intervenção, pois o desenvolvimento da linguagem, o tratamento de comorbidades e o suporte escolar acrescentam e auxiliam muito a generalizar os resultados do tratamento.

Pedro Lemos - Professor de Educação Física - CREF 037864-G/RJ

Referências:






Tomé, Maycon Cleber (2007). A educação física como auxiliar no desenvolvimento cognitivo e corporal dos autistas. Disponível em: https://www.toledo.pr.gov.br/sites/default/files/autista_0.pdf. Acesso em: 24 set. 2015.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

ALIMENTAÇÃO E AUTISMO



ALIMENTAÇÃO E AUTISMO


O autismo apresenta algumas características específicas quanto à alimentação. São elas a seletividade, a possível recusa de alguns ou vários alimentos, a indisciplina comportamental durante as refeições e as desordens gastrointestinais. Todo esse quadro pode ocasionar deficiências nutricionais, desnutrição e a fome oculta (necessidade de nutrientes cuja falta ou deficiência só podemos perceber através de exames bioquímicos).
A partir disso, temos quatro condições básicas impactadas no Autismo. A inflamação intestinal (disbiose), a deficiência de nutrientes, a proliferação de fungos e o estresse oxidativo.
Todo o tempo o foco da nutrição deve ser a recuperação da integridade do intestino, reduzindo ou eliminando a inflamação constante que pode ser causada por toxinas, alergias, sensibilidade alimentar e crescimento desordenado de bactérias e fungos, pois os nutrientes não são adequadamente digeridos e absorvidos tendo consequência uma baixa função cerebral e celular em geral. Esse quadro pode gerar no autista, respostas físicas como dores generalizadas (dores de cabeça, articulações, musculares), azia, refluxo, diarreia, constipação, má digestão e comportamentos estereotipados como autoagressão, beliscões no corpo, arranhões, bater com a cabeça, sacudir os braços, alteração do paladar. Também pode levar ao consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos simples como os preparados com farinha de trigo (massas, bolos, biscoitos, pães e etc) cuja característica gerou a expressão “carboman” (homem do carboidrato) para os autistas, já que suas funções cerebrais estão alteradas. Além disso, a deficiência de nutrientes e o acúmulo de metais pesados no organismo causam percepção alterada do paladar o que pode levar alguns indivíduos a consumirem produtos não alimentícios como shampoos, tinta, cola, sabonete, tijolo, entre outros.

Outro ponto importante a ser observado é o crescimento desordenado de fungos, cujas toxinas produzidas entram na corrente sanguínea e seguem até o cérebro onde podem provocar sintomas como: alienação, falta de clareza mental e comportamento viciado. A proliferação de fungos pode ser causada pelo excessivo uso de antibióticos e o sistema imunológico desequilibrado do indivíduo.
O estresse oxidativo é a resposta do organismo às agressões causadas pela poluição, toxinas, excessivo consumo de alimentos industrializados que contém conservantes como glutamato e metais pesados como alumínio e mercúrio. Ele danifica o sistema nervoso. A alimentação do autista deve ser o mais natural possível.
Para eles é importante melhorar a digestão dos alimentos, disfarçar vegetais e legumes de forma que  aceitem melhor a alimentação, retirando ou diminuindo o consumo de açúcares, amidos e fermentos.
A suplementação através de enzimas e polivitamínicos pode ser necessária e de acordo com cada caso, pois cada pessoa responde de uma forma ao tratamento.
Alimentos que causam alergia ou sensibilidade alimentar devem ser reduzidos ou retirados da dieta do autista, como aqueles que possuem em sua composição glúten (parte proteica do trigo) e caseína (parte proteica do leite).
Alimentos probióticos (que contém bactérias vivas boas para o intestino) como o kefir, o chucrute, leites fermentados e iogurtes, bem como os prebióticos (aqueles provenientes das fibras alimentares e que as bactérias vivas boas utilizam para se alimentar) como as fibras vindas de alguns vegetais (banana, cebola, alho, chicória, maçã e linhaça) devem ser adicionados à alimentação.
Alimentos ricos em ômega 3 como as castanhas, sardinha, atum, salmão, sementes ou farinhas de chia, linhaça, amaranto, o azeite extra virgem devem ser priorizados de forma a minimizar a inflamação do intestino.
Priorizar orgânicos, inserir verduras, legumes e frutas, diminuir ou eliminar corantes, conservantes e o excesso de químicos e industrializados é fundamental e urgente no tratamento nutricional do autismo, visto que ele pode melhorar consideravelmente a qualidade de vida do indivíduo.

Nutricionista Ana Lúcia Ribeiro de Vasconcellos
CRN4 11100846


REFERÊNCIAS:

LIVRO: AUTISMO, ESPERANÇA PELA NUTRIÇÃO – Claudia Marcelino


Dieta sem glúten sem caseína. Disponível em: http://www.estouautista.com.br/index.php/dieta-sgsc/

Autismo, a relação com certos alimentos. Disponível em: https://gluteneobesidade.wordpress.com/209-2/

Nutrição e Autismo: considerações sobre a alimentação do autista. Disponível em: http://www.itpac.br/arquivos/Revista/51/1.pdf

ABRA – Associação Brasileira do Autismo - http://www.autismo.org.br/

Guia Prático de Intervenção Nutricional no Autismo – disponível em: http://www.estouautista.com.br/index.php/dieta-sgsc/



sábado, 4 de novembro de 2017

Um Olhar Multidisciplinar sobre o Autismo



Um Olhar Multidisciplinar sobre o Autismo

 

Um sujeito não cessa de ser um sujeito, mesmo que seu corpo seja “deficiente”. O fato de haver algo de biológico em jogo não exclui sua particularidade como um ser imerso na linguagem. (Laurent)
 
No início do século passado, por volta de 1911, um psiquiatra suíço chamado Eugene Bleuler pela 1ª vez se utiliza da palavra “autismo” que tem a sua origem no alemão “AUTISMUS” afim de descrever um paciente esquizofrênico, que por sua vez se retirasse em seu próprio mundo, definindo-a como um conjunto de operações psíquicas que afetam a percepção da realidade acarretando uma impossibilidade ou grande dificuldade para se comunicar.
Na sequência, Leo Kanner, um psiquiatra austríaco erradicado nos Estados Unidos, por volta de 1943 inicia suas pesquisas na Universidade de John Hopkins baseada na observação de 11 crianças e relato dos pais, onde se observava uma inaptidão e dificuldade nas interações sociais.
Mas foi apenas no final da década de 70, início dos anos 80 ,(1978 /1980) que pela primeira vez o termo esquizofrenia e autismo foram compreendidos como distintos, pois enquanto na esquizofrenia há uma ruptura causada por algo traumático em algum momento da vida, o autismo é desde sempre, isto é, não houve uma relação inicial.
O TEA- Transtorno de Espectro Autista é um transtorno de desenvolvimento, neurobiológico, uma alteração no desenvolvimento mental que faz com que ele tenha dificuldades de se relacionar com as pessoas, e por isso precisa muito de ajuda, sendo a família parte fundamental na condução de seu tratamento. Ainda não há cura para o autismo, portanto, o que mais nos importa é promover qualidade de vida para esse sujeito, que é possível conquistar através de um trabalho multidisciplinar.
E para saber se alguma criança tem autismo, é importante observar alguns sinais:

-A criança evita contato visual? ; -Não responde quando é chamado? ; -Costuma mexer com os dedos e as mãos de forma peculiar? ; -Fica fazendo movimentos repetitivos sem motivo aparente? ; -O desenvolvimento da linguagem parece diferente? ; -Costuma emitir sons e palavras repetidas fora do contexto? ; -Brinca com os objetos e brinquedos de forma bastante particular? ; -Confunde-se com frases de sentido figurado e costuma ser literal? ; -Parece ter reduzida sua capacidade imaginativa? ; -Apresenta interesse exagerado em assuntos muito específicos? ; -Tem pouca noção de situação de perigo? ; -Comunica-se melhor falando de temas de seu interesse? ;-Isola-se dos colegas sem motivo aparente?

Se essa criança apresenta alguns desses comportamentos em ambientes diferentes e se você percebe que isso vem se repetindo, é relevante procurar um profissional (neurologista, psiquiatra, psicólogo, psicanalista, fonoaudiólogo) que possa te orientar de forma adequada. Converse com ele, tire suas dúvidas, conte a história dessa criança. Quanto antes ela for diagnosticada e mais rápido iniciar um acompanhamento multidisciplinar, mais qualidade de vida ela poderá ter. A família é parte fundamental nesse processo.
De que forma a Psicanálise pode contribuir?
Por ser uma prática voltada a partir do sujeito e para o sujeito respeita sua subjetividade e tem por finalidade justamente fazer que esse sujeito possa emergir.
As criança com autismo, mesmo que não pronunciem, que não oralizem sequer uma palavra, as chamadas não verbais, podem se comunicar de várias formas, através de gestos, olhares, sons e até mesmo dos movimentos estereotipados, que nada mais são do que uma tentativa de se organizarem, de darem conta das inúmeras sensações que os invadem.
A psicanálise foi o primeiro movimento que deu voz à esses sujeitos, que os “desasilou”, que pôde entender que por detrás de um rótulo, condição ou precariedade, existe uma pessoa que é única e plural. Que mesmo não havendo cura para o autismo, entende que é possível promover qualidade de vida através da multidisciplinalidade.
A prática psicanalítica nos convida a pensar em algo que justamente é extremamente contraditório mas contemporâneo, que é a aceitação do que não é pior, nem tampouco menor, mas diferente. E justamente por isso, promover um olhar multidisciplinar pode propiciar mais abertura e possibilidades para algo tão complexo e plural como o autismo.
Ela pode ajudar esse sujeito a se apropriar de sua própria imagem, que se reconheça, que tenha ao menos um pouco da noção da dimensão desse corpo, corpo esse que é linguagem, que ele possa aprender a se manifestar e que consiga lidar de forma menos intrusiva com tudo aquilo que vêm do mundo externo e que o invade de sensações com as quais ele tem precariedade em lidar. A Psicanálise OUVE esse sujeito, DÁ VOZ à ele para que se propicie emergir um sujeito desejante, autônomo e que junto de sua família seja capaz de construir sua própria história.

“O que temos de mais humano é a necessidade de fazer a vida excessiva que trazemos sempre conosco, muita das vezes perigosa, conviver e funcionar com a necessária regulação social dos desejos e dos gozos. Para cada um, esse cruzamento é único e distinto e mantém-se às custas de um trabalho contínuo. O autista entretanto, realiza esse trabalho com pedra lascada e barro fofo.” (Éric Laurent)


Por Andréa Pinheiro Bonfante
*Psicanalista / Psicopedagoga- ABPp:1271-RJ
*Mestranda em Psicanálise Saúde e Sociedade
*Diretora de Mobilização Distrital do Sindicato
dos Psicopedagogos do Brasil- CRPp:816


Espaço Multidisciplinar Vida Plenal – Rua André Rugeri, 115- Bairro de Fátima- Valença- RJ
(24)99316-8982 whatsapp / (24)2452-4478 Clínica -  e-mail:andreapinheiroprof@hotmail.com


BIBLIOGRAFIA:

*LAURENTE, Éric - A batalha do autismo: da clínica à política/ Éric Laurent; tradução Claudia Berliner. – 1ª ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2014
*RIBEIRO, Jeanne Marie de Leers Costa – A criança autista em trabalho





sábado, 23 de setembro de 2017

Grupo CAIA- Caminhar Autístico e Investimento Afetivo






O Grupo CAIA- Caminhar Autístico e Investimento Afetivo muito mais do que um grupo de apoio é um serviço de utilidade pública. Motivada por sua monografia sobre o tema e atendimentos com crianças autistas na clínica, o grupo foi criado pela então Psicanalista e Psicopedagoga Andréa Pinheiro com  a proposta de reunir pais, familiares, profissionais e / ou quaisquer outros que tenham experiências e depoimentos com autistas e queiram dividir e compartilhar conosco esse aprendizado. As reuniões mensais acontecerão na Clínica Vida Plena- Valença- RJ  sempre na primeira terça-feira do mês às 19 h sob a supervisão da profissional. Os interessados em participar dos encontros, que serão sem custo, podem também se tornar parceiros e serem incluídos nas redes sociais do grupo para serem comunicados sobre a programação e usufruírem das postagens feitas frequentemente pertinentes ao tema. Aos que desejarem se unir ao grupo sejam todos muito bem vindos e que possam seguir  unidos nessa caminhada.

Andréa Pinheiro Bonfante

Psicanalista de crianças, jovens e adultos, pós-graduada em Teoria Psicanalítica pela Universidade Veiga de Almeida Tijuca RJ; Psicopedagoga Clínica e Institucional pós-graduada pela Universidade Estácio de Sá- SP; Professora de Letras (Português/Inglês e Literaturas) graduada pela UNIG- Universidade Nova Iguaçu-RJ; Tradutora e Intérprete da Língua Inglesa; Palestrante de Questões Educacionais e Familiares, Colunista do site Portal Valença-RJ, Consultora, Sócia proprietária da Clínica Vida Plena Consultórios-Valença RJ.

Clínica Vida Plena Consultórios de Psicologia, Psicopedagogia e Psicanálise

Rua Durval Cúrzio, 70- Bairro de Fátima-Valença-RJ Tel.:(24)2452-4478 (24)99316-8982 whatsapp

TDAH e Transtornos de aprendizagem. Como saber? O que fazer?


TDAH e Transtornos de aprendizagem. Como saber? O que fazer? 


Seu filho é ativo e não para de correr de um lado pro outro? Seu filho é questionador?  Ele é curioso? É teimoso? Seu filho quer estar sempre experimentando e conhecendo coisas novas e fica excitado com essas possibilidades? Ele tem dificuldade em ficar parado porque é extremamente vibrante e fica empolgado com o novo? Tem dificuldades em aceitar regras e limites? Se dispersa com razoável facilidade? Passa por dificuldades na escola? Tem dificuldade em se responsabilizar com suas tarefas? Tem dificuldades de concluir tarefas já iniciadas? Se você disse sim a todas essas perguntas ou a maioria delas pode estar se perguntando se seu filho tem TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) ou quaisquer outros transtornos de aprendizagem que tanto se comenta nos tempos atuais nos consultórios pediátricos, nas instituições escolares, entre os educadores ou qualquer outro lugar onde haja um pai ou uma mãe preocupado com o comportamento não “adequado” de seu filho ou resultados “nada satisfatórios” na escola. E nesse caso, o que fazer? Que providência tomar? Medicar é lógico. Só que não. Não é disso que se trata como diz nosso sábio Psicanalista Jacques Lacan. Apresentar tais sintomas não faz necessariamente de uma criança um portador de um desses transtornos. Qualquer um de nós pode se enquadrar num desses padrões em determinado momento ou circunstância.

“Hoje já podemos falar em aprendizagem sem necessariamente pensar num modelo único e puramente de transmissão de saber. Existem diversos modelos e uma vasta forma de trabalhar a educação, claro que há umas que possibilitam mais autonomia e outras que ainda prendem o sujeito numa alienação, que o impede de ver o mundo com seus próprios olhos”. (JACQUES LACAN)¹

A questão é que precisamos ter muita cautela quanto a todas essas questões, pois um laudo precipitado e pouco investigado pode acarretar em medicalização indiscriminada e rotulações indesejáveis para seu filho, tirando dele toda sua subjetividade. O que venho propor aqui é uma abordagem diferenciada sobre o assunto, um olhar além que possa trazer aos pais esclarecimentos quanto o quão grave pode ser a precipitação de um diagnóstico.
Charles José da Silva, Psicólogo Clínico, Psicanalista, Pós graduando em Teoria e Clínica Psicanalítica, diz em seu artigo Medicalização do Sofrimento e a Dor Existencial Humana “[...] medicalizaram-se as crianças, por apresentarem rebeldias que, até bem pouco tempo tratávamos como ‘coisas de crianças’ e que hoje demos o status de “doença”“. Estamos tornando nossas crianças e suas infâncias doentes “³”.
Posso comprovar o que diz o caro colega todos os dias em minha clínica, onde atendendo crianças com demandas das mais diversas, sendo de aprendizagem ou emocionais, tanto na vertente Psicopedagógica ou Psicanalítica, defronto-me com familiares numa busca inalcançável de perfeição de conduta dessas crianças que desejam apenas ser ouvidas por aqueles que amam e que na grande maioria das vezes os problemas que apresentam são da ordem do emocional. Crianças meramente desmotivadas pelo processo educacional e não “doentes”. É preciso investigar as causas e não apenas voltar os olhares para os sintomas apresentados acima, que podem erroneamente nos influenciar fazendo-nos supor sobre o assunto.
O discurso atual que mais prevalece nas redes sociais atualmente fala sobre a intolerância, aceitação das diferenças, a pluralidade do ser humano e discursos outros que seguem essa linha de raciocínio que defendem o direito de “SER DIFERENTE” e ser aceito e respeitado como tal. Curioso que ao mesmo tempo em que a sociedade luta em aceitar a singularidade dos indivíduos dentro de uma pluralidade de realidades, quando falamos de nossos filhos no que diz respeito ao seu desempenho escolar e processos de aprendizagem, nos precipitamos em rotulá-los e medicalizá-los numa tentativa desesperada de justificar aquilo que não conseguimos entender ou lidar de forma saudável - a não aprendizagem ou a dificuldade dela. E então seguimos rotulando e medicalizando nossas crianças, muita das vezes sem necessidade, fazendo dessa geração uma geração de “zumbis”, que seguem sem questionar, pois é exatamente isso que um medicamento mal administrado pode causar.
É lógico que os laudos existem e que os medicamentos têm o seu lugar, desde que investigações a respeito dessa criança, da sua vida familiar, histórico de doenças e a forma como a criação dessa criança é conduzida sejam observados. Para se chegar a um laudo final de TDAH e outros transtornos é primordial que haja uma equipe multidisciplinar que consta de pediatra, neurologista, psicopedagogo, fonoaudiólogo e terapeuta para trabalhar de forma responsável essa possibilidade. Procure referências sobre os profissionais ao qual confiará seu filho, troque ideias e questione com eles sobre a forma mais saudável de conduzir um tratamento, e o mais importante, invista tempo e dedicação ao seu filho. Se não podemos nos precipitar em rotular nossas crianças, tampouco devemos ser omissos quanto à procura de uma ajuda profissional competente. Caso você tenha dúvidas quanto ao comportamento de seu filho, procure um profissional (neurologista, psiquiatra, pediatra ou psicólogo) que possa lhe orientar, não especule sobre o assunto nem aceite opiniões nada profissionais ou leigas. Caso o laudo seja positivo, qual o problema? Não tenha medo nem seja preconceituoso. Secretariado por uma boa equipe de profissionais seu filho poderá conduzir sua vida de forma muito saudável e positiva. O Psicopedagogo exercerá papel fundamental no tratamento desses transtornos envolvendo de forma lúdica e atraente a criança no processo de aprendizagem que é constante e diário para despertar no “aprendente” o desejo do saber, pois o que move a aprendizagem é o desejo.

Referências:

Escrito por: Andréa Pinheiro Bonfante

Andréa Pinheiro Bonfante
*Psicanalista / Psicopedagoga- ABPp:1271-RJ
*Mestranda em Psicanálise Saúde e Sociedade
*Diretora de Mobilização Distrital do Sindicato

dos Psicopedagogos do Brasil- CRPp:816

e-mail: andreapinheiroprof@hotmail.com
Espaço Multidisciplinar Vida Plena
Rua André Rugeri, 115- Bairro de Fátima-Valença-RJ Tel.:(24)2452-4478 (24)99316-8982whatsapp