sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O AMOR ACABOU ENTRE NÓS?


O amor acabou entre nós?


Talvez não seja exatamente o amor que tenha acabado, mas a ilusão de amor que você mesmo construiu a respeito desse grande Outro que você decidiu eleger, projetando nele todas as suas expectativas que foram criadas e fantasiadas por você e não pelo outro a quem você direcionou seu amor. Por isso a decepção, o sentimento de vazio e abandono, a frustração e sensação de que algo literalmente “escapou entre os dedos” se instale. É quase sempre muito doloroso esse processo de luto de uma relação que sinaliza o fim, é da ordem do real, daquilo que não se possa nomear e se converte no corpo numa dor dilacerante.
O Psicanalista Jacques Lacan nos deixou colocações preciosas a respeito desse conturbado sentimento que mexe com o psiquismo humano desde sempre; “Amar é dar o que não se tem a quem não o deseja”  ou “O amor é movido pela falta”. Apesar da colocação ser absurdamente precisa e pontual, desconsideramos a frase de nosso poeta Vinícius de Moraes, “Que seja eterno enquanto dure…” Entretanto nos deixamos levar pelo grande engodo do para sempre e definitivo, pelo grande equívoco de que esse Outro a quem você elegeu deseje receber toda essa energia libidinal direcionada a ele (a), ou então você se  coloca demais a disposição e não consegue despertar no outro nenhum tipo de interesse, ou seja, “mercadoria” ofertada em abundância acaba por perder seu valor.
Forte mas necessário dizer que é disso sim que se trata. Pessoas se queixam diariamente de terem sido “enganadas” e se sentem despedaçadas quando se veem no final de um relacionamento ou numa relação desgastada. Não foram enganadas. Talvez esse amor tenha existido sim, talvez ainda exista, ele continua vivo em cada lágrima derramada mas não é suficiente para sustentar uma relação.
Se estabelecer uma conversa madura é difícil, se os focos de interesse do casal já não são os mesmos, duro constatar que talvez o melhor a fazer seja dar um novo rumo a vida, se ressignificar, se reinvestir de novos interesses e recomeçar. Qual o valor de uma relação adoentada? A relação adoentada adoece os amores e os amores adoentados adoecem a relação como num ciclo vicioso. Se o que houve ou  se o que há é amor, mais decente, sincero e honesto com ambos, mas antes de tudo consigo mesmo, é parar, antes que a massa do bolo desande. Preservar as boas lembranças, respeitar o outro e seguir seu caminho talvez seja a melhor saída, não a mais fácil, entretanto  uma possibilidade diante das circunstâncias. Mas como fazer isso? Como abrir mão daquilo que sempre lhe foi tão caro, tão precioso? Como deixar de lutar por algo que você ainda deseja?
Tudo no final é entre você e você mesmo. Freud, num de seus mais renomados casos, fez o seguinte questionamento a uma de suas pacientes: Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?  Então propomos uma reflexão sobre o questionamento do texto. Qual é a sua responsabilidade nas implicações de sua própria existência e relação com o mundo e seus amores?
Autora: Andréa Pinheiro Bonfante
Mestranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade na UVA, Pós-graduada em Teoria Psicanalítica pela UVA, Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Estácio de Sá, Graduada em Letras pela UNIG, Sócia e Diretora Técnica do Espaço Multidisciplinar Vida Plena- Valença –RJ, Colunista do site Portal Valença-RJ, Palestrante de temas Psicanalíticos e Psicopedagógico.

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