quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O ORGASMO “DA MULHER”




O ORGASMO “DA MULHER”





As mulheres, desde sempre foram reprimidas com suas questões sexuais. Frases como: “Sexo é coisa de homem.”, “Menina de família não se dá ao desfrute.”, “Sexo é pecado.”, A mulher deve guardar seu corpo.”, “Tira a mão daí menina...”, “Mulher pra casar é mulher de família.”, e muitas outras de cunho repressor e hipócrita, são muito mais comuns na história da vida de muitas de nós do que se possa imaginar. E por incrível que pareça, por mais que tenhamos evoluído na luta feminina, em pleno século XXI, esse ainda é um discurso recorrente em muitas rodas de conversa, instituições, famílias conservadoras e em diversos outros lugares.
O resultado dessa repressão são mulheres extremamente infelizes em seus relacionamentos porque não sabem sequer o que seja um orgasmo. Dão prazer aos seus parceiros mas não se dão prazer. Mulheres que não conhecem seus corpos, que nunca se masturbaram, que nunca tiveram coragem de dizer para esse outro com quem ela se deita, que gostaria de gozar também.
Preconceito velado? Vergonha? Hipocrisia? Falta de informação? O que será que ainda impede as mulheres de se apropriarem de suas vidas, de seus corpos, de seus desejos? A frase que mais tenho ouvido nas redes sociais atualmente tem sido “Empodere-se mulher!” O que exatamente quer dizer esse jargão? Sim, por que me perdoem quem o usa com frequência, mas o que passa a ser usado repetidamente e muitas das vezes sem se dar sentido ao termo passa sim a dizer mais do mesmo. E o que menos precisamos, são de discursos viciados, precisamos mesmo é entender o que é ser uma mulher.
O renomado e famoso Psicanalista francês Jacques Lacan já dizia “A mulher não existe” Calma! Não é o que parece ser a princípio. O que esse reconhecido francês quis dizer com essa colocação tão provocativa? Sua colocação foge completamente do senso comum e nos convoca a uma reflexão. Lacan realça a complexidade feminina, coisa que Freud de certa forma desistiu de entender e deixou para os outros se aprofundarem no assunto. Lacan retoma a reflexão e questiona: “O que quer uma mulher?” Você mulher conseguiria responder de forma sucinta e resumida essa emblemática pergunta? Possivelmente não, e como já havia dito em artigo anterior sobre a mulher, é difícil responder justamente porque toda mulher se inventa, reinventa, e até porque essa coisa de não existir, como disse Jacques Lacan, nos dá autoridade e propriedade de ser por aí ao nosso modo, de um jeito único. E se paramos para refletir, muitas coisas existem por aí e não SÃO absolutamente nada, só existem, paradas, alienadas, assujeitadas.
As mulheres se reinventam a todo momento,  se utilizam de artifícios diversos para serem o que quiserem, não seguem rótulos, nem protocolos, são desmedidas, ousadas, questionadoras, revolucionárias desde sempre, e podem muitas das vezes não terem ao menos se dado conta de sua força, capacidade de inovação e transformação. Não percebem a fênix que carregam em si, capazes de renascerem das cinzas.
E detentoras de tantas especificidades, singularidades e ao mesmo tempo pluralidades, o que falta a essa mulher alcançar seu orgasmo, sozinha ou acompanhada, do jeito que ela quiser? Por que o gozar feminino continua preso num corpo que não se conhece? Não sei lhes responder, lhes convoco a pensar. Até porque cada uma de nós encontrará suas próprias respostas, ou não. Talvez encontrem outras perguntas e reflexões.  Mas o importante de refletirmos sobre isso, é que possamos entender que toda mulher tem o direito de alcançar seu orgasmo, do jeito dela, na hora dela, e se ela assim desejar, pra justamente bancar esse seu desejo. Informe-se, converse com seu parceiro, conheça mais o seu corpo, procure ajuda se for o caso. Muitas dessas questões que inibem esse posicionamento podem ser questões psíquicas mal resolvidas desde a infância, repressões nunca ditas, nunca elaboradas. Descubra o quanto você pode ser dona disso tudo e tomar as rédeas da situação, descubra que  você mulher pode se dar esse direito, esse prazer.

Autora:
Andréa Pinheiro- Psicanalista/ Mestranda em Psicanálise, Saúde e Sociedade.




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