TDAH e Transtornos
de aprendizagem. Como saber? O que fazer?
Seu filho é ativo e não para
de correr de um lado pro outro? Seu filho é questionador? Ele é curioso? É teimoso? Seu filho quer
estar sempre experimentando e conhecendo coisas novas e fica excitado com essas
possibilidades? Ele tem dificuldade em ficar parado porque é extremamente
vibrante e fica empolgado com o novo? Tem dificuldades em aceitar regras e
limites? Se dispersa com razoável facilidade? Passa por dificuldades na escola?
Tem dificuldade em se responsabilizar com suas tarefas? Tem dificuldades de
concluir tarefas já iniciadas? Se você disse sim a todas essas perguntas ou a
maioria delas pode estar se perguntando se seu filho tem TDAH (Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade) ou quaisquer outros transtornos de
aprendizagem que tanto se comenta nos tempos atuais nos consultórios
pediátricos, nas instituições escolares, entre os educadores ou qualquer outro
lugar onde haja um pai ou uma mãe preocupado com o comportamento não “adequado”
de seu filho ou resultados “nada satisfatórios” na escola. E nesse caso, o que fazer? Que
providência tomar? Medicar é lógico. Só que não. Não é disso que se trata como
diz nosso sábio Psicanalista Jacques Lacan. Apresentar tais sintomas não faz
necessariamente de uma criança um portador de um desses transtornos. Qualquer
um de nós pode se enquadrar num desses padrões em determinado momento ou
circunstância.
“Hoje já podemos falar em aprendizagem sem necessariamente
pensar num modelo único e puramente de transmissão de saber. Existem diversos
modelos e uma vasta forma de trabalhar a educação, claro que há umas que
possibilitam mais autonomia e outras que ainda prendem o sujeito numa
alienação, que o impede de ver o mundo com seus próprios olhos”. (JACQUES
LACAN)¹
A questão é que precisamos
ter muita cautela quanto a todas essas questões, pois um laudo precipitado e
pouco investigado pode acarretar em medicalização indiscriminada e rotulações
indesejáveis para seu filho, tirando dele toda sua subjetividade. O que
venho propor aqui é uma abordagem diferenciada sobre o assunto, um olhar além
que possa trazer aos pais esclarecimentos quanto o quão grave pode ser a precipitação
de um diagnóstico.
Charles José da Silva, Psicólogo
Clínico, Psicanalista, Pós graduando em Teoria e Clínica Psicanalítica, diz em
seu artigo Medicalização do Sofrimento e a Dor Existencial Humana “[...] medicalizaram-se as crianças, por apresentarem
rebeldias que, até bem pouco tempo tratávamos como ‘coisas de crianças’ e que
hoje demos o status de “doença”“. Estamos tornando nossas crianças e suas
infâncias doentes “³”.
Posso comprovar o que diz o caro colega todos os dias em minha clínica,
onde atendendo crianças com demandas das mais diversas, sendo de aprendizagem
ou emocionais, tanto na vertente Psicopedagógica ou Psicanalítica, defronto-me
com familiares numa busca inalcançável de perfeição de conduta dessas crianças
que desejam apenas ser ouvidas por aqueles que amam e que na grande maioria das
vezes os problemas que apresentam são da ordem do emocional. Crianças meramente
desmotivadas pelo processo educacional e não “doentes”. É preciso investigar
as causas e não apenas voltar os olhares para os sintomas apresentados
acima, que podem erroneamente nos influenciar fazendo-nos supor sobre o
assunto.
O discurso atual que mais
prevalece nas redes sociais atualmente fala sobre a intolerância, aceitação das
diferenças, a pluralidade do ser humano e discursos outros que seguem essa
linha de raciocínio que defendem o direito de “SER DIFERENTE” e ser aceito e
respeitado como tal. Curioso que ao mesmo tempo em que a sociedade luta em
aceitar a singularidade dos indivíduos dentro de uma pluralidade de realidades,
quando falamos de nossos filhos no que diz respeito ao seu desempenho escolar e
processos de aprendizagem, nos precipitamos em rotulá-los e medicalizá-los numa
tentativa desesperada de justificar aquilo que não conseguimos entender ou
lidar de forma saudável - a não aprendizagem ou a dificuldade dela. E então
seguimos rotulando e medicalizando nossas crianças, muita das vezes sem
necessidade, fazendo dessa geração uma geração de “zumbis”, que seguem sem questionar, pois é exatamente isso que um
medicamento mal administrado pode causar.
É lógico que os laudos
existem e que os medicamentos têm o seu lugar, desde que investigações a
respeito dessa criança, da sua vida familiar, histórico de doenças e a forma
como a criação dessa criança é conduzida sejam observados. Para se chegar a um
laudo final de TDAH e outros transtornos é primordial que haja uma equipe multidisciplinar
que consta de pediatra, neurologista, psicopedagogo, fonoaudiólogo e terapeuta
para trabalhar de forma responsável essa possibilidade. Procure referências
sobre os profissionais ao qual confiará seu filho, troque ideias e questione
com eles sobre a forma mais saudável de conduzir um tratamento, e o mais
importante, invista tempo e dedicação ao seu filho. Se não podemos nos
precipitar em rotular nossas crianças, tampouco devemos ser omissos quanto à
procura de uma ajuda profissional competente. Caso você tenha dúvidas quanto ao
comportamento de seu filho, procure um profissional (neurologista, psiquiatra,
pediatra ou psicólogo) que possa lhe orientar, não especule sobre o assunto nem
aceite opiniões nada profissionais ou
leigas. Caso o laudo seja positivo, qual o problema? Não tenha medo nem
seja preconceituoso. Secretariado por uma boa equipe de profissionais seu filho
poderá conduzir sua vida de forma muito saudável e positiva. O Psicopedagogo
exercerá papel fundamental no tratamento desses transtornos envolvendo de forma
lúdica e atraente a criança no processo de aprendizagem que é constante e
diário para despertar no “aprendente” o desejo do saber, pois o que move a
aprendizagem é o desejo.
Referências:
Escrito
por: Andréa Pinheiro Bonfante
e-mail: andreapinheiroprof@hotmail.com
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