Recomece | Bráulio Bessa
Quando a vida bater forte e sua alma sangrar, quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar...
É hora do recomeço.
Recomece a LUTAR.
Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar...
É hora do recomeço.
Recomece a ACREDITAR.
Quando a estrada for longa e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar...
É hora do recomeço.
Recomece a CAMINHAR.
Quando o mal for evidente
e o amor se ocultar,
quando o peito for vazio,
quando o abraço faltar...
É hora do recomeço.
Recomece a AMAR.
Quando você cair e ninguém lhe aparar,
quando a força do que é ruim
conseguir lhe derrubar... É hora do recomeço.
Recomece a LEVANTAR.
Quando a falta de esperança
decidir lhe açoitar, se tudo que for real for difícil suportar...
É hora do recomeço.
Recomece a SONHAR.
Enfim,
É preciso de um final pra poder recomeçar,
como é preciso cair pra poder se levantar.
Nem sempre engatar a ré
significa voltar.
Remarque aquele encontro,
reconquiste um amor,
reúna quem lhe quer bem,
reconforte um sofredor,
reanime quem tá triste
e reaprenda na dor.
Recomece, se refaça,
relembre o que foi bom,
reconstrua cada sonho,
redescubra algum dom,
reaprenda quando errar,
rebole quando dançar,
e se um dia, lá na frente, a vida der uma ré,
recupere sua fé e RECOMECE novamente.
-Bráulio Bessa
Joel Birman- Psicanalista da atualidade, em seu livro Mal-estar na Atualidade, e vale dizer, inspirado na obra de Freud “Mal-Estar na Civilização” nos idos de 1920, ele o autor contemporâneo, nos convida a refletir que não possamos pensar mal-estar sem ressaltar o fato de que o que se inscreve aqui é da ordem da subjetividade, que o mal-estar é matéria prima sempre recorrente para a produção de sofrimento nas individualidades.
Devemos
pensar com urgência nos novos desafios que surgem e que se impõem ao sujeito
dentro dessa nova cartografia, a perda do timing, o discurso do autogerenciamento
trazido por Byung-chul Han em Sociedade do Cansaço ao nos colocar frente a
perda do pai, do Estado, e sem um amparo que antecede, que nos aponte um
caminho, as pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados - tornando-as
vigilantes e carrascas de suas ações. Em uma época em que poderíamos trabalhar
menos e ganhar mais, a ideologia da positividade opera uma inversão perversa:
nos submetemos a trabalhar mais e a receber menos. Essa onda do "eu consigo" e
do "yes, we can" tem gerado um aumento significativo de doenças como depressão,
transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e "burnout".
A proposta da Psicanálise não chega como um discurso que antecede, algo cristalizado ou alienante, uma receita de bolo, muito pelo contrário, convida a pensar, se implicar na cena, se fazer ator principal do espetáculo da vida e não um mero coadjuvante ou um jogador no banco de reservas ou um investidor medíocre de seus desejos. É sobre se a ver com a castração, lidar com frustrações, fazer escolhas e decidir qual fatura você vai pagar porque ela SEMPRE chega.
FÁCIL? Não me atreveria a fazer tal afirmativa, mas digamos que aquilo que Freud levou para uma de suas pacientes no início do século XX – O caso Dora- ao perguntar “Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?” seja o motor, o incômodo, o tropeçar que machuca, mas que nos arremessa para frente, um despertar pra se movimentar. E trazendo a grande máxima de Freud: “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.”
E O PAPEL DO PSICANALISTA?
Acolher - Ouvir - Pontuar - Implicar - Incomodar - Instigar - Fazer pensar
TALVEZ COLABORAR NO TRABALHO DE REVELAR OS NEGATIVOS DE
FOTOS, ARQUIVADAS NO INCONSCIENTE, CONVIDAR O SUJEITO A ABRIR SUA CAIXINHA DE
PANDORA, OU OS SEGREDOS DE POLICHINELO, OU SEJA, AQUELE QUE TODO MUNDO
SABE E PODE ENXERGAR , MAS QUE É
EVITADO, JUSTAMENTE POR SER DESAGRADÁVEL, MAS EIS AQUI UM DOS INFORTÚNIOS DO
PSICANALISTA- MANEJAR TODA ESSA SITUAÇÃO VALENDO-SE DO PROCESSO TRANSFERENCIAL
QUE O ANALISANDO ESTEBELECE COM ELE.
Psicanalista Professora Mestre e Doutoranda em Psicanálise Andréa Pinheiro Bonfante
*BIRMAN, Joel. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
*HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
*CORTELLA, Mário Sérgio- Não nascemos prontos! Provocações filosóficas / Mário Sérgio Cortella. 19 ed. - Petrópolis, Rj: Vozes, 2015.
*FREUD, Sigmund. (1905[1901]). Fragmento da análise de um caso de histeria. In: Obras Psicológicas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol. VII.
*LACAN, Jacques. (1959-1960). O Seminário, livro 10: A angústia- Rio de Janeiro: Zahar, 2005.