-A PSICANÁLISE E AS DEFICIÊNCIAS
INVISÍVEIS-
TEA- Transtorno do Espectro Autista
O que a psicanálise tem a dizer sobre o desenvolvimento
de um sujeito com autismo?
Palavras – chave: Psicanálise, Autismo, Deficiência, invisível
A PSICANÁLISE E AS DEFICIÊNCIAS INVISÍVEIS
O CORDÃO DE GIRASSOL
Fazendo uma articulação do autismo com as deficiências invisíveis, podemos falar sobre o girassol que é um símbolo globalmente reconhecido para comentar sobre essa “invisibilidade”, também conhecida como deficiência oculta.
A escolha de um girassol para representar essa peculiaridade foi proposital, pois sugere felicidade, positividade, força, bem como crescimento e confiança, sendo ele universalmente conhecido.
Nem todas as deficiências são visíveis, algumas são
imediatamente óbvias. Dentre as não óbvias temos Transtorno do Espectro Autista (TEA), o
Transtorno do Déficit de Atenção (TDAH), dislexia, deficiências auditivas e
visuais parciais dentre outras.
Elas também incluem condições respiratórias, condições de
doenças crônicas como diabetes e tantas outras condições que não podem ser
identificadas no olhar, pois embora você não consiga ver essas deficiências e
condições invisíveis, elas ainda estão lá.
As pessoas que convivem com essa realidade, muitas vezes
enfrentam barreiras em suas vidas diárias, incluindo falta de compreensão e
atitudes negativas. Por isso, alguns optam por usar um cordão Girassol para
identificar discretamente que podem precisar de apoio, ajuda ou apenas um pouco
mais de tempo para se adequarem em lugares públicos, lojas ou transportes.
Especificamente sobre o autismo o símbolo globalmente
reconhecido é o quebra cabeça que fala sobre a subjetividade de cada sujeito,
tal como uma colcha de retalhos, o quebra cabeça fala de algo a ser construído.
Voltando ao título de nossa introdução, a psicanálise propõe um olhar e uma escuta
atenta e diferenciada para aquilo que se configura a princípio. É como desvelar
aquilo que aos olhos do senso comum esteja invisível.
BASEADO EM FATOS
O caso que trago aqui tem como nome fictício Aurora que
conheci através de um projeto cultural e como aluno de formação em psicanálise,
dediquei-me à observação do caso. Aurora foi diagnosticada com Autismo
tardiamente, aos 10 anos por uma equipe multidisciplinar. Frequentou a escola,
chegou à vida acadêmica e realizou alguns cursos complementares, como idiomas,
pintura e informática. Não faltaram dificuldades no percurso, mas a maior delas
foi a falta de orientação sobre como criar seu próprio caminho. Aurora hoje tem
24 anos, gosta de interagir com pessoas e animais, tem um trabalho fixo e
namora um rapaz que conheceu em uma rede social, dando-nos notícias de que um
portador de TEA pode ser funcional e construir sua própria história.
A importância da atenção individualizada no desenvolvimento
de uma criança, ainda bebê, precisa ser levada em consideração e a não atenção
devida aos fatos pode vir a comprometer seu desenvolvimento. Aurora não foi
percebida, nem pelos seus pais, que havia algo diferente em seu
desenvolvimento, nem mesmo pela pediatra que a acompanhava. Uma parente mais próxima
foi quem notou que Aurora precisava de uma atenção individualizada, procurou a
pediatra e fez alguns questionamentos. Não obteve muito progresso e insistiu
com a família que a menina precisava de um acompanhamento de profissionais
capacitados, e durante cinco anos a menina fez terapia sem a anuência do pai.
Mesmo tendo o acolhimento da vó materna, a mãe de Aurora, em um processo
inconsciente e procurando agradar seu marido, visita diversos profissionais
acreditando que pudesse ter um erro em um dos laudos, pois o pai não aceitava
uma filha com o que ele nomeava “defeito”, já que tinha idealizado uma filha
perfeita, e vive um eterno conflito entre aquilo com o que sonhou e idealizou.
O pai ainda hoje vive o luto da filha idealizada, dificultando, de alguma
forma, as relações entre os dois
Durante sua adolescência Aurora foi desvalidada várias vezes
por esse pai. Quando percebia algum incomodo na escola ou no transporte público,
seu pai desconsiderava suas queixas alegando que ela estivesse com preguiça e
que não quisesse ir à escola, a convivência com esse pai até hoje é um pouco difícil.
Aos 13 anos Aurora finalmente obteve seu segundo laudo, onde foram
observados sintomas compatíveis com o TEA, o que deu a família a dimensão das
peculiaridades que Aurora sempre apresentou, deixando claro o quanto o tratamento
e o apoio da família seriam fundamentais, deixando claro que o tempo de negação
da família, tirou dela a possibilidade de ter iniciado um tratamento mais
precocemente, o que a teria colaborado imensamente na sua evolução.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aurora prefere usar o Girassol como símbolo de sua condição e
causa particular ao invés de fazer uso do cordão de quebra-cabeça, símbolo
usado pelos portadores do TEA, e justifica sua escolha alegando que o mesmo representa
uma suposta complexidade do transtorno, “como se faltasse” uma peça em pessoas
autistas e foi originalmente criado por uma organização repleta de polêmicas, por
essa razão ela não se sente à vontade de usar essa identificação, defendendo a
ideia de que para o autista não lhes faltam peças, mas sim oportunidades para
se encaixarem na sociedade, e dessa forma, escolheu o girassol, que é o que ela
mais gosta.
O girassol tem virado LEI em muitos municípios para
representar deficiências ocultas, justamente por sugerir aquilo que inicialmente
comentamos no início, felicidade, positividade, força, crescimento e confiança.
O TEA – Transtorno do Espectro Autista, autismo é um
comprometimento neurológico não uma doença. A maior das dificuldades do
autista está localizada nas suas relações sociais. O seu tempo e a forma de estar no mundo é
singular, peculiar e idiossincrático.
Cabe a sociedade saber do que se trata e capacitar-se para
acolher esses indivíduos como verdadeiros sujeitos de suas histórias com
respeito e dignidade.
Autor: José de Ribamar Santos Souza- Aluno de formação em psicanálise.
Sob a supervisão e orientação da Prof. Mestre e Doutoranda em Psicanálise Andréa Pinheiro Bonfante.