Psicanalista Mestre e Doutoranda em Psicanálise

terça-feira, 7 de julho de 2020

LIBRAS- Inclusão à comunidade surda



LIBRAS- Inclusão à comunidade surda





A psicóloga e especialista em libras Carolline Lopes, nos convoca a pensar acerca da inclusão e nas dificuldades de linguagem que um surdo enfrenta na sua rotina, e para elucidar essa questão, traz essa bela história, escrita por ela.


Texto:

Vamos imaginar agora que estamos em um ponto de ônibus depois de um dia de trabalho. Um cadeirante se aproxima, começamos a conversar sobre o tempo ou o último episódio da novela.Logo após, um cego e uma pessoa com síndrome de Down se aproximam e continuamos nosso diálogo.Mais tarde se aproxima outra pessoa, mas agora essa pessoa tem uma surdez profunda e é usuário da Língua de sinais, o que fazemos?

Muitas vezes uma simples conversa, corriqueira, fica difícil por não conhecermos a realidade daquela pessoa, não é verdade?A inclusão propõe um mundo mais igual para todos, é olhar as pessoas pela capacidades e não pela falta. Esse é um desafio para as escolas hoje. Os professores e pais são os principais agentes que promovem a inclusão.Ao pensar na deficiência auditiva, esse processo tem suas peculiaridades. Entender a sua realidade é essencial para essa finalidade.

A perda auditiva é dividida em vários graus e níveis, temos a perda leve, moderada, profunda e severa. A partir de então, cria-se uma infinidade de tipos( de formas) de se lidar com a deficiência auditiva a depender do grau e da pessoa. Ou seja,há pessoas que tem perdas moderadas a leve que apenas utilizam o aparelho auditivo ou a leitura labial para se comunicar. No grupo dos deficientes auditivos temos 3 sub-divisões, aqueles que usam a libras, aquele que usa a leitura labial e aquele que utiliza das duas formas de comunicação. 



Aqui trago para vocês sobre os surdos que utilizam a Língua Brasileira de Sinais. Cada um dos integrantes dos grupos que falei anteriormente precisam de uma atenção quando o assunto é inclusão, por isso optamos em falar primeiramente desse grupo.

Gostaria de explicar sobre o uso da palavra surdo, como dito anteriormente a deficiência auditiva abrange uma infinidade de pessoas, dessa forma ao falar apenas deficiente auditivo muitas vezes não abraçamos a realidade tão própria dos usuários da Língua de sinais, dessa maneira utilizamos o termo Surdo para designar a essa população específica. 

A audição tem papel primordial na nossa aquisição de conhecimentos. Ela é o meio que utilizamos para nos comunicar, aprender novas coisas e ter um contato com o mundo. Esse é principal ponto para entendermos a perda auditiva profunda nas crianças, como propõe esse texto.

O fato de não possuir capacidade auditiva ou ter baixa capacidade, muda completamente sua forma de compreensão de mundo. Por exemplo, se perguntarmos para uma criança pequena como o cachorrinho faz, a criança ouvinte responderá: Au! Au! Já a criança surda irá falar que abana o rabo. Percebe a diferença? A percepção do surdo está muito mais ligada a fatores visuais do que qualquer outro ponto. E isso se reflete em toda nossa vida. A Língua de Sinais foi criada observando esse ponto.

Por exemplo, a pedagogia visual estuda como transformar um conteúdo em imagem e é um forte aliado de professores na criação de seus conteúdos didáticos.   

Outro fato marcante, que já iniciei a falar, é o idioma. A primeira Língua do Surdo, em sua grande maioria, é a LIBRAS e não como nós, a língua portuguesa. Se você pensar em : Eu quero um copo d’agua! Provavelmente pensara nessa frase em português em sua cabeça. Muitas vezes a pessoa com surdez pensa nas imagens ou essa frase em Libras. A língua é a forma que ele pensa, se comunica e compreende o mundo. Nos coloquemos no lugar deles, imagine entrando em uma sala onde o idioma falado é um que você não sabe ou sabe pouco. Será difícil entender com perfeição toda a matéria abordada, não é mesmo? Essa é a forma que o Surdo muitas vezes entra em nas salas.
   

A forma de compreender o mundo produz o que chamamos de Cultura Surda, que é em muitos pontos diferente da nossa. Isso deve ser pensado pelos agentes que promovem a inclusão. 
Ao receber uma criança com surdez é primordial descobrir o seu mundo, sua maneira de enxergar as coisas ao redor. Cada criança é única, um grande mistério para nós, na qual a ajudaremos a se desenvolver. Se permita a se aventurar no mundo da Libras e de uma nova forma de olhar.

Carolline Lopes- Psicóloga e Especialista em Libras - CRP: 05/50327

Nenhum comentário:

Postar um comentário